domingo, 13 de março de 2016

Castro Alves e o dia da Poesia



Março de Castro Alves

Dia 14 de março comemora-se o Dia Nacional da Poesia.
Poesia é gênero literário que se define pelo uso de versos, figuras de linguagem, rimas, ritmo, idéias originais. Pode ter uma forma definida como o soneto, ou não. Hoje a poesia tem certa liberdade. O que não se dispensa é a criatividade.
O dia foi escolhido por ser o aniversário de um poeta marcante, o baiano Castro Alves, Antonio Frederico de Castro Alves, que retratado jovem, com vasta cabeleira negra e lustrosa fez estudantes suspirarem desde sua existência.
O poeta morreu jovem, aos 24 anos ( 14 de março de 1847-06 de julho de 1871).
Morou em Salvador, Recife, Rio de Janeiro e São Paulo.
Formou-se em direito.
Viveu suas tragédias pessoais, ficou órfão, teve seu pé amputado por conta de um acidente em uma caçada, casou-se, teve uma amante, uma paixão por uma atriz portuguesa, 10 anos mais velha, Eugênia Câmara, morreu de tuberculose.
Entregou sua breve vida à juventude indômita, aos versos líricos e galantes, às idéias republicanas e abolicionistas.
Será dele este mês.
Viva o poeta! Via a poesia!!

A cestinha de costura

 
Para o livrinho de D. BRASÍLIA VIEIRA

NÃO QUERO panteons não quero mármores
Não sonho a Eternidade fria, escura...
Minha glória ideal é o quente abrigo
De uma pequena cesta de costura.


À sombra dos terraços florescentes
Entorna a violeta a essência pura:
Flores d'alma recendem mais fragrância
Numa pequena cesta de costura.


Batida pelos corvos da procela,
A pomba a era tímida procura:
Pousa minh’alma foragida as asas
Nesta pequena cesta de costura.


Astros que amais a espuma das cascatas!...
Orvalhos que adorais do lírio a alvura!
Dizei se há menos lânguidos arminhos
Nesta pequena cesta de costura.


Nesse ninho de fitas e de rendas...
No perfume sutil da formosura...
Vão meus versos viver de aroma e risos
Entre as flores da cesta de costura.


E quando descuidada mergulhares
Esta mão pequenina, santa e pura,
Possam eles beijar teus níveos dedos
Escondidos na cesta de costura.
 
Capricho


Ai! quando
Brando
Vai o vento
Lento


À lua
Nua
Perpassar sutil;


E a estrela
Vela,
E sobr'a linfa
A ninfa
Suspira
Mira
O divinal perfil;


Num leito
Feito
De cheirosas
Rosas,
Risonhos
Sonhos
Sonharemos nós;


Revoltos,
Soltos
Os cabelos
Belos,
Vivace
A face,
Tremulante a voz


Cantos
E prantos
Que suspira
A lira,
A alfombra,
À sombra,
Encontrarei pra ti;


Celuta,
Escuta
De meu seio
O enleio...
Vem, linda,
Ainda
Há solidões aqui.

Fragmento


HÁ FLORES tristes, que nascendo à noite
Só têm o açoite
Do cruento sul
E sem que um raio lhes alente a seiva,
Rolam na leiva
De seu vil paul.


Eu sou como elas. A vagar sozinho


Sigo um caminho
De ervaçais e pó


A luz de esp'rança bruxuleia a custo
Tremo de susto,
De morrer tão só.

Navio Negreiro- Castro Alves
 canto V- trecho
Senhor Deus dos desgraçados! 
Dizei-me vós, Senhor Deus! 
Se é loucura... se é verdade 
Tanto horror perante os céus?! 
Ó mar, por que não apagas 
Co'a esponja de tuas vagas 
De teu manto este borrão?... 
Astros! noites! tempestades! 
Rolai das imensidades! 
Varrei os mares, tufão! 


Quem são estes desgraçados 
Que não encontram em vós 
Mais que o rir calmo da turba 
Que excita a fúria do algoz? 
Quem são? Se a estrela se cala, 
Se a vaga à pressa resvala 
Como um cúmplice fugaz, 
Perante a noite confusa... 
Dize-o tu, severa Musa, 
Musa libérrima, audaz!... 


São os filhos do deserto, 
Onde a terra esposa a luz. 
Onde vive em campo aberto 
A tribo dos homens nus... 
São os guerreiros ousados 
Que com os tigres mosqueados 
Combatem na solidão. 
Ontem simples, fortes, bravos. 
Hoje míseros escravos, 
Sem luz, sem ar, sem razão... 


O livro e a América- Castro Aves
trecho
Por uma fatalidade
Dessas que descem de além,
O sec'lo, que viu Colombo,
Viu Guttenberg também.
Quando no tosco estaleiro
Da Alemanha o velho obreiro
A ave da imprensa gerou...
O Genovês salta os mares...
Busca um ninho entre os palmares
E a pátria da imprensa achou...
Por isso na impaciência
Desta sede de saber,
Como as aves do deserto
As almas buscam beber...
Oh! Bendito o que semeia
Livros... livros à mão cheia...
E manda o povo pensar!
O livro caindo n'alma
É germe — que faz a palma,
É chuva — que faz o mar.




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