domingo, 31 de julho de 2016

Livros- Casa de Bonecas- Henrik Ibsen



Um clássico é sempre atual!!
Este estava na lista faz tempo.
A história de uma mulher e seu tempo, sua relação social, seu papel como filha ,esposa e mãe e seu súbito despertar para um final inesperado.
Obrigatório e reverberante.

sexta-feira, 29 de julho de 2016

Celebrando Mário Quintana





Mário Quintana

Quintana é o aniversariante do mês, dia 30.
Nasceu em Alegrette, Rio Grande do Sul em 1906 e morreu em Porto Alegre, em  maio de 1994.
O menino Mario nasceu prematuro, em dia de frio intenso. Foi alfabetizado ainda em casa, depois foi estudar, colégio militar, trabalhou em livraria,   ajudou na farmácia do pai, virou jornalista, escritor, poeta, tradutor.
Teve, como um de seus patrões, Érico Veríssimo,  outro expoente das letras, na livraria Globo.
Foi incentivado por Monteiro Lobato, que lhe encomendou um livro.
Nunca se casou.
Morou em hotéis por Porto Alegre. Passeava por suas ruas. Apreciava a solidão.
O Hotel  Magestic , onde o poeta morou muitos anos foi tombado e transformado no Centro de Cultura Mário Quintana.
Fabrício Carpinejar, escritor , diz que Quintana nem sempre foi assim, um doce velhinho, como aparece nas fotos, mas que foi moço e menino, só não sobrou fotografia desta época.
Muitos documentos de Quintana foram perdidos em suas muitas mudanças.
Foi amigo dos grandes de sua época apesar de pouco ter saído de sua terra.
Pleiteou o cargo de Acadêmico na Academia Brasileira de Letras por três vezes.
Na última, respondeu à negativa com o célebre  Poeminho do Contra.
Por ocasião de seu sexagésimo aniversário foi saudado por Manuel Bandeira, no ambiente da Academia, com o poema Quintanares.
Escreveu  prosa e poesia, para adultos e crianças.
Foi homenageado da Feira do Livro de Ribeirão Preto em 2014.
Seus poemas são feitos em  linguagem simples, com lindas imagens algo melancólicas e com humor sarcástico.
Muitos de seus textos fazem parte de livros didáticos.
Correção: Mário Quintana não morreu.
Quintana é eterno em seus textos e vive, agorinha, quando nos lembramos dele.

BIOGRAFIA
Era um grande nome — ora que dúvida! Uma verdadeira glória. Um dia adoeceu, morreu, virou rua... E continuaram a pisar em cima dele.
Mario Quintana (Caderno H)

                                               Poeminho do Contra
Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão...
Eu passarinho!
 
(Prosa e Verso, 1978)



O poema- Mário Quintana

Um poema como um gole d’água bebido no escuro.
Como um pobre animal palpitando ferido.
Como uma pequenina moeda de prata perdida para sempre na floresta noturna.
Um poema sem outra angústia que a sua misteriosa condição de poema.
Triste
Solitário
Único
Ferido de mortal beleza

As Mãos do Meu Pai
As tuas mãos tem grossas veias como cordas azuis
sobre um fundo de manchas já cor de terra
— como são belas as tuas mãos —
pelo quanto lidaram, acariciaram ou fremiram
na nobre cólera dos justos...
Porque há nas tuas mãos, meu velho pai,
essa beleza que se chama simplesmente vida.
E, ao entardecer, quando elas repousam
nos braços da tua cadeira predileta,
uma luz parece vir de dentro delas...
Virá dessa chama que pouco a pouco, longamente,
vieste alimentando na terrível solidão do mundo,
como quem junta uns gravetos e tenta acendê-los contra o vento?
Ah, Como os fizeste arder, fulgir,
com o milagre das tuas mãos.
E é, ainda, a vida
que transfigura das tuas mãos nodosas...
essa chama de vida — que transcende a própria vida...
e que os Anjos, um dia, chamarão de alma...
(Mario Quintana)


Bilhete
Se tu me amas, ama-me baixinho
Não o grites de cima dos telhados
Deixa em paz os passarinhos
Deixa em paz a mim!
Se me queres,
enfim,
tem de ser bem devagarinho, Amada,
que a vida é breve, e o amor mais breve ainda...
Mario Quintana**


O tempo
A vida é o dever que nós trouxemos para fazer em casa. 
Quando se vê, já são seis horas! 
Quando de vê, já é sexta-feira! 
Quando se vê, já é natal... 
Quando se vê, já terminou o ano... 
Quando se vê perdemos o amor da nossa vida. 
Quando se vê passaram 50 anos! 
Agora é tarde demais para ser reprovado... 
Se me fosse dado um dia, outra oportunidade, eu nem olhava o relógio. 
Seguiria sempre em frente e iria jogando pelo caminho a casca dourada e inútil das horas... 
Seguraria o amor que está a minha frente e diria que eu o amo... 
E tem mais: não deixe de fazer algo de que gosta devido à falta de tempo. 
Não deixe de ter pessoas ao seu lado por puro medo de ser feliz. 
A única falta que terá será a desse tempo que, infelizmente, nunca mais voltará.

Se eu Fosse um Padre
Se eu fosse um padre, eu, nos meus sermões,
não falaria em Deus nem no Pecado
- muito menos no Anjo Rebelado
e os encantos das suas seduções,

não citaria santos e profetas:
nada das suas celestiais promessas
ou das suas terríveis maldições...
Se eu fosse um padre eu citaria os poetas,

Rezaria seus versos, os mais belos,
desses que desde a infância me embalaram
e quem me dera que alguns fossem meus!

Porque a poesia purifica a alma
... a um belo poema - ainda que de Deus se aparte -
um belo poema sempre leva a Deus!

Das Utopias
Se as coisas são inatingíveis… ora!
Não é motivo para não querê-las…
Que tristes os caminhos, se não fora
A presença distante das estrelas!


O Batalhão das Letras
Aqui vão todas as letras,
Desde o A até o Z,
Pra você fazer com elas
O que esperam de você…
Aí vem o Batalhão das Letras
E, na frente, a comandá-lo,
O A, de pernas abertas,
Montado no seu cavalo.
Com um B se escreve BALÃO,
Com um B se escreve BEBÊ,
Com um B os menininhos
Jogam BOLA e BILBOQUÊ.
Com C se escreve CACHORRO,
Confidente das CRIANÇAS
E que sabe seus amores,
Suas queixas e esperanças…
Com um D se escreve DEDO,
Que poderá ser mau ou sábio,
Desde o dedo acusador
Ao D do dedo no lábio…
O E da nossa ESPERANÇA
Que é também o nosso ESCUDO
É o mesmo E das ESCOLAS
Onde se aprende de tudo.
Com F se escreve FUGA,
FRADES, FLORES e FORMIGAS
E as crianças malcriadas
Com F é que fazem FIGAS.
O G é letra importante,
Como assim logo se vê:
Com um G se escreve GLOBO
E o globo GIRA com G.
Com H se escreve HOJE
Mas “ontem” não tem H…
Pois o que importa na vida
É o dia que virá!
O I é a letra do ÍNDIO,
Que alguns julgam ILETRADO…
Mas o índio é mais sabido
Que muito doutor formado!
Com J se escreve JULIETA,
Com J se escreve JOSÉ:
Um joga na borboleta,
O outro no jacaré.
O K parece uma letra
Que sozinha vai andando,
Lembra estradas, andarilhos
E passarinhos em bando…
O L lembra o doce LAR,
Lembra um casal à LAREIRA!
O L lembra LAZER
Da doce vida solteira…
Com M se escreve MÃO.
E agora vê que engraçado:
Na palma da tua mão
Tens um M desenhado!
N é a letra dos teimosos,
Da gente sem coração:
Com N se escreve – NUNCA!
Com N se escreve – NÃO!
Outras letras dizem tudo.
Mas o O nos desconcerta.
Parece meio abobalhado:
Sempre está de boca aberta…
Quem diz que ama a POESIA
E não a sabe fazer
É apenas um POETA inédito
Que se esqueceu de escrever…
Esse Q das QUEIJADINHAS,
Dos bons QUITUTES de QUIABO
Era um O tão mentiroso
Que um dia criou rabo!
Os RATOS morrem de RISO
Ao roer o queijo prato.
Mas para que tanto riso?
Quem ri por último é o gato.
Acheguem-se com cuidado,
De olho aceso, minha gente:
O S tem forma de cobra,
Com ele se escreve SERPENTE.
É o T das TRANÇAS compridas,
Boas da gente puxar;
Jeito bom de namorar
As menininhas queridas…
O U é a letra do luto!
O U do URUBU pousado
Nas negras noites sem lua
Num palanque do banhado…
Este V é o V de VIAGEM
E do VENTO vagabundo
Que sem pagar a passagem
Corre todo o vasto mundo.
Era uma vez um M poeta
Que um dia, em busca de uma rima,
Caiu de pernas pra cima
E virou um belo dábliu!
Coisa assim nunca se viu,
Mas é a história verdadeira
De como o dábliu surgiu…
Com um X se escreve XÍCARA,
Com X se escreve XIXI.
Não faças xixi na xícara…
O que irão dizer de ti?!
Ypsilon – letra dos diabos,
Que engasga o mais sabichão!
Por isso o povo e as crianças
A chamam de “pissilão”…
O Z é a letra de ZEBRA,
E letras das mais infames.
Com um Z os menininhos
Levam ZERO nos exames.
E todas as vinte e seis letras
Que aprendeste num segundo
São vinte e seis estrelinhas
Brilhando no céu do mundo!
Mario Quintana )
(Publicado originalmente no livro Poemas para Infância, retirado de Poesia Completa – Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2005, p. 919 por mim mesmo em 14/10/2012)


terça-feira, 26 de julho de 2016

As olimpíadas



Quando a proposta para sediar as Olimpíadas no Rio de Janeiro se confirmou, houve muita gritaria, e ainda há, contra.
Isso foi há 8 anos.
Não sei bem o que penso sobre o assunto mas sei que " Já que tá que fique!" e vamos lá tratar de fazer acontecer.
Torcer contra, nunca!!!
Daí que , numa casa de aficionados por esporte, começou-se a pensar em ir às Olimpíadas.
Queríamos todos ir à abertura, coisa que não consegui viabilizar até agora, a família querendo assistir e eu querendo fazer.
Isso mesmo!
Estar em campo , atuar!!
Ia ser a  tiazinha do purê de batatas ou participaria da cerimônia de abertura.
Para isso , o primeiro passo, seria achar o caminho dos voluntários.
Assim que a notícia apareceu, inscrevi-me, foi em 2013.
Sabia que estaria aposentada na ocasião .
De lá para cá foram muitos treinamentos online, alguns presenciais, entrevistas, e muitos desafios a começar pela espera.
Teria a oportunidade de estar na festa de abertura desde que passasse nas audições e me comprometesse com ensaios a partir de  maio deste ano.
Este desafio, principalmente o compromisso de tempo, me pareceu além da minha capacidade, por isso desisti deste sonho, mas mantive o desejo de participar.
Enfrentei muitas dificuldades para conseguir cumprir as atividades propostas, pensei em desistir, pensei que tinha perdido a chance de ser voluntária olímpica.
Entristeci. Triste, reagi, juntei coragem, fui tirar os atrasos e comecei a cumprir cursos e entrevistas.
Cada novo evento marcou-me com conhecimento e fortaleza,  mais experiência, desafios, vitórias, ganhos, surpresas, encantos.
Foi assim que recebi, com muita felicidade, meu aceite para ser voluntária, em novembro de 2015.
Recebi também o espanto de quem sabia dos planos, a dúvida sobre a veracidade do fato, o questionamento da validade deste, o escárnio, a inveja, o pessimismo, raríssimas manifestações de felicidade.
Isso não me abateu, foi algo surpreendente, estava convicta do meu desejo, disposta a enfrentar embora me tremessem os joelhos.
Assim fui caminhando sem muito pensar, esperando sem desesperar.
Ainda faltava a carta convite que só chegou em junho de 2016, depois o local de trabalho e  a escala que foram entregues em julho.
Estava assim determinado o meu destino: Riocentro, pavilhão 6, boxe, Serviço do Evento.
Até esta demora fez parte do treino!
Enquanto isso a família comprava ingressos, alugava hospedagem, tudo sem saber o que iria ser de mim.
Estamos a 15 dias dos jogos, já estou credenciada, uniformizada, treinamentos completos, ingressos na mão e hospedagem paga e garantida.
Um trecho desta jornada de voluntária percorrido.
Um orgulho imenso no peito!
Falta muita coisa ainda para resolver e muitos detalhes para cuidar em antecipação.
Serão muitos mas não todos.
Impossível providenciar tudo.
O inesperado faz parte do jogo e muitas coisas serão decididas, bem ou mal, na hora.
Pedimos sempre por luz e guia.
Ter fé é essencial.
Confiar no outro também.
Vou com a firme disposição da felicidade, certa de que haverá dificuldades e mais certa ainda que as vencerei.
Torçam por mim!!

domingo, 24 de julho de 2016

Livros- O Peso da Gravata e outros contos- Menalton Braff



Edição  bem cuidada, ilustrada e de leitura confortável.
Escrito com maestria, o livro de contos traz boas histórias entre fantásticas, sombrias, ternas e realistas, dentro das quais achamos palavras que nos parecem a nós dirigidas.
Em seu estilo pleno de imagens poéticas e sinestesias,  Menalton Braff  nos coloca na pele do personagem.
Menalton faz o conto sem sobras ou faltas, em justa medida.
Alguns dos textos já conhecia como aperitivos oferecidos pelo autor.
Dos por mim desconhecidos destaco o "Nossa Perna" e "Um Corvo em Cima do Telhado" que tratam da delicada relação a dois.

Uma amostrinha da rica linguagem do autor em  "Corvo"

" Num sábado de setembro minha pele sentia o cheiro da primavera porque a tarde era macia, sem aresta nenhuma."


quarta-feira, 20 de julho de 2016

Crime e castigo



O Dostoiévsky no lixo!
Encadernado em capa dura, vermelha, no lixo.
De pronto achei um crime.
Fui, vi, assuntei, voltei e agi.
Peguei o livro.
Novo!!!
Exceto por uma intrigante perfuração feita, possívelmente com um instrumento ponteagudo rombóide sem corte, de capa a capa, atravessando o miolo tenro de alvas páginas, dir-se -ia que pouco havia sido tocado.
O criminoso instrumento atravessou as camadas de papel que cederam, não sem resistência,com determinada intenção.
Pela grossura do objeto, houve, certamente, o emprego de força física.
O ferimento mutilou palavras e frases, comprometendo ideias sem , no entanto, lhes tirar por completo o entendimento e o sentido.
Um crime!!
De certo a vítima teve sua integridade desrespeitada visando sua serventia para fins outros aos quais não era destinada.
Suspeito que tenha sido utilizado para compor algum arranjo decorativo.
Mas nada pode ser afirmado antes da investigação sobre o caso, formulação e hipóteses, coleta de provas, verificação de indícios.
Desolada pelo acontecido, folheei-o com cuidado, atenta aos estragos, a procura de pistas.
Não era virgem.
Um romântico ramo de alecrim marcava, com seu perfume, a página onde se interrompera a leitura.
Foi certamente um crime, mas a vítima, felizmente, teve tempo de ser útil e cumprir sua missão.
Foi lido!
Foi um livro antes de ser um objeto, provavelmente, decorativo.
Houve crime, é certo.
Poderá o fato ser atenuado pela vida plena da vítima?
O castigo?
Talvez não haja.
Pois, mesmo mutilado, jogado na caçamba, serviu de inspiração para este texto, foi mais que lido, foi perpetuado neste escrito.
Para que seguisse o seu curso, resisti à tentação de trazê-lo comigo. Deixei-o lá, entregue ao seu destino, fosse qual fosse.
Quem sabe outro passante, o lixeiro , o morador de rua, alguém ainda tire dele proveito apesar do permanente ferimento, apesar do trágico acontecido.

domingo, 17 de julho de 2016

Livros- Mímico Everton- 30 anos de mímica no Brasil- Everton Ferre




Conheci o Everton na época da escola de teatro, a Essencial, quando ele veio para fazer uma apresentação na escola.
Encantou-me.
Fez sua transformação, maquiagem, enquanto conversava com a turma, sem espelho, o traço perfeito, o rosto decorado na ponta dos dedos.
E depois apresentou-nos sua arte, a mímica, rara é poética.
Ficamos amigos pelos  meios eletrônicos e eis que , ao passado, recebo dele um belo livro contando de sua trajetória.
Saber como ele começou, como se deu sua opção, suas escolhas, seu caminho, deu-lhe ainda mais valor.
Um livro para todos que se interessam pela arte de rua, pelas opções não convencionais, pela busca de sonhos.
Everton continua se apresentando pelas cidades.
Não percam a oportunidade de vê-lo.

quarta-feira, 13 de julho de 2016

Do amor



Lendo um número atrasado, do mês passado mas que uma vez não lido me é novidade, da Revista da Cultura sobre o amor, reconheço, em primeiro lugar, a validade da imersão no assunto para a inspiração e criatividade.
Ponto e Parabéns!
Em segundo lugar resgato minha maneira pessoal de pensar o amor.
Creio que quem ama protege, com seu amor, o ser amado.
Só no ato de direcionar-lhe bons pensamentos, pensamentos amorosos e ternos.
( Cuidado!!! Não possessivos!)
Meu amor, por amar, só quer o bem do amado.
Querer o bem do outro é preservar-lhe a liberdade de escolha do que fazer e com quem fazer.
A felicidade de quem amo pode não me incluir em seus planos.
Confesso que este pensar foi um aprendizado, um desnudamento de antigas crenças.
Somos tão instruídos na posse, que a liberdade e o respeito que ofereço por vezes são vistos como descaso e desamor.
Querer a felicidade do amado, mesmo abrindo mão da própria felicidade , é prova maior de amor.
Creio que, como ser amado que sou, também  estou revestida deste bem querer protetor.
O amor que pratico independe da proximidade física, desejadíssima mas nem sempre possível.
O amor que pratico, leiam-me bem, não é único, é múltiplo como sou, impossível de exclusividade e impraticável em suas desejáveis e infinitas ações.
Estou sempre em excesso de capacidade.
Este é meu jeito de amar, não uma doutrina.
Cada um tem o seu jeito, mas uma coisa lhes digo, amor e felicidade não são lá tão bons companheiros.
Inexiste o amor sem sofrimento, inquietação, preocupação.
É o preço do mar.
Inexiste vida sem amor.
É o preço do viver.
PS: Dedico este texto aos amados, para que saibam que são.

domingo, 10 de julho de 2016

Livros- Tijolos de Veneza- Cássia Janeiro



Cássia Janeiro é minha colega na UBE- União Brasileira de Escritores, onde é vice-presidente.
Não a conheço pessoalmente, apenas suas pegadas virtuais na nossa rede social.
Quando vi seu livro na livraria não hesitei em trazê-lo para conhecer sua escrita.
São Poemas bem escritos, com bonitas imagens e belas palavras.
Os temas são pessoais, e universais no que tangem a humanidade, majoritariamente sobre o amor e a entrega, a volúpia, o prazer.
Poemas que carregam uma voz que embala e inspira.


Doce de coco- Cássia Janeiro

Fiz doce de coco
para nós.
Esqueci-me de convidá-lo,
lembrei-me de que
sou diabética.



segunda-feira, 4 de julho de 2016

Os dias



Tem muita gente que vive a semana na espera do seu final.
Nem sei se já fui desta turma!
Quando menina, meus melhores dias eram os de escola, novidades, amigos.
Adolescente , os amigos se prologavam em festas nos finais de semana, igualmente bons.
Na faculdade, todo dia era dia de festa e estudo, um verdadeiro teste de resistência física. A diferença era que , no final de semana, se a festa não era diurna, podia-se dormir até mais tarde, quero dizer, até a tarde. Mas nada era garantido.
Casada e sem filhos, os finais de semana eram de pouco trabalho, mas nem sempre de muita companhia. Tinha os plantões, fim de semana sim , outro também.
Quando as crianças vieram, os finais de semana tornaram-se de puro trabalho, casa, criança, saídas, adianto de serviço para a semana. Uma labuta sem fim!
Tão sem fim que continua assim, mesmo sem criança.
Agora , aposentada, estou pondo um novo calendário em prática.
Costumo tirar o sábado para resolver algo para mim, ou a casa, um curso, uma compra, uma ida à cidade, um mergulho em livro, algo meu.
Domingo sou da família, faço feira, almocinhos, vejo filmes em perfeito estado de preguiça.
Segundas feiras só deveriam acontecer após o meio dia, mas não é assim. Elas teimam em  acontecer desde cedo. São dias que demandam muita ação para um corpo que precisa ser convencido a agir. Procuro evitar compromissos neste dia.
A terça é mais tranquila. Aquilo que foi feito na segunda vai girar e tomar seu lugar, acontecer, responder.
Quarta-feira é o dia! O meu dia! Dia de recolher os resultados do que foi iniciado na segunda, encaminhar para que aconteça. Um dia de muita energia!!
Quinta é o dia tranquilo. O que aconteceu , aconteceu. Dia de planejar os próximos dias.
Sexta inexiste! Há uma agitação nervosa no ar. Tudo pela iminência do fim. Tudo para se acabar, afrouxar o nó da gravata, por o pé na estrada, beber com amigos, ver a namorada.
É meu dia de executar os planos para a casa, compras, saídas, visitas, presentes, quando necessários ou desejados.
E assim voltamos ao sábado!
Vê! Como passa rápido!!
Assim é a semana corrida, sem feriados, imprevistos ou viagens. Quando estes acontecem, ficam suspensos os planos, às vezes adiantados, outras postergados, dobrados os trabalhos, mas na maioria das vezes, extintos.

domingo, 3 de julho de 2016

Livros- Que enchente me carrega? Menalton Braff



Livro considerado pelo autor como um de seus melhores trabalhos, a "Enchente" apresenta linguagem apurada em narrativa densa e instigante.
Sobre um homem solitário,  perturbado pelo conflito de suas ideias sobre a realidade e a modernidade, suas relações com o trabalho, com o passado, com a família, o amor, na situação extrema da destruição de sua casa pela desapropriação, pelo risco de desmoronamento.
Um caminho que nos faz, a todo momento, repensar nossa relação com nossa própria ideia de trabalho, arte, realidade, desejos, sociedade.
Livro de leitura e releitura nada fácil, mas compensadora, na linguagem artística do mestre Menalton.

" Das coisas que mais detesto é que alguém me defina. Quanta gente se perde na vida por culpa de uma definição! Chega um sujeito qualquer, sem responsabilidade nenhuma , e inventa os limites, descreve o universo numa frase, bota uma camisa-de-força num cavalo selvagem."