quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Crônica vencedora do concurso

Amigos, aí vai a crônica vencedora do concurso da ALARP 20011, O Passado.
Divido simbolicamente o prêmio com minha mãe que trouxe o dito envelope que inspirou este trabalho.

 O Passado                                                                                                         

O passado bateu à porta.
Vestia um envelope pardo.
Sóbrio, magro, mas composto.
Seu traje, que poderia sugerir tristeza no trato, era apenas a indiferença disfarçando o conteúdo.
Veio pelas mãos de uma parenta, assim distante, portadora de um outro tempo.
Veio do espólio de alguma tia, de quem lembro a face farta de rugas e um sorriso, fingindo em amarelo, alguma alegria.
O nome? Fugiu pulando, pueril, as janelas da memória.
Sorri e agradeci a lembrança, possível fruto de uma arrumação tardia de armários , ou um resgate súbito da pilha  de “lixo”.
Coloquei-o ali, displicentemente, no aparador.
Passei um café ruim, que é o meu jeito de passar café.
O aroma abraçou a cena .
A parenta se foi, missão cumprida, arrastando ao sol seus queixumes do tempo, do vento, do reumatismo, da vista, da vida.
O envelope rodou a semana inteira pelo mobiliário da sala experimentando poeiras , sujeito às variações da luz ambiente.
Rodou, rodou mas não se perdeu.
Ao contrário, achou o caminho devido.
Foi dar com os costados na mesa do meu ofício, encimando o monte dos papéis a serem vistos.
E assim se fez.
Rasguei-lhe o traje, fí-lo nascer.
De dentro do impessoal pardo, escorregou timidamente, um envelope branco envelhecido.
Era um convite de casamento, tradicional, o nome dos pais orgulhosamente grafados no alto, os dos nubentes, filhos, centrados, um de cada lado.
O convite tinha mais de 25 anos, e mesmo cheirando a guardado emanava de si o frescor do sonho sonhado pelos recém-casados, o burburinho da festa farfalhando tafetás, o cansaço dos saltos, das bocas , dos cílios, um branco de vestido, perfume de rosas na noite quente, uma lua e um buquê de margaridas.
Lembrança de quando ainda se casava e se acreditava no “Felizes Para Sempre”,  de quando as moças eram princesas e os moços heróis.
Solidária, enxuguei a testa do noivo que tremia emoções .
Busquei novamente o envelope .
Quase aos saltos, saiu um cartão postal com dizeres no verso, sem data, endereçado aos avós de uma neta ainda menina que entrara na faculdade:
 “ Esta é minha escola. Não é linda?!”.
Como pode uma letra revelar a juventude, com mais fidelidade do que uma foto.
A letra era de alguém que ainda não era.
Uma letra desenhada e caprichada, para ser entendida e apreciada.
Uma assinatura, da coleção de tentativas de assinatura, que buscava uma identidade única na multidão.
O texto de um entusiasmo verdadeiro e pleno, como é próprio da idade.
O sonho de futuro, as novidades, o cheiro da terra molhada de chuva no fim de tarde, a roupa molhada, a poeira dos livros da biblioteca desenhada numa réstia invasora de sol, o sono de quem não poupa viver, a certeza das amizades, a vontade de aprender e fazer e fazer e fazer a diferença.
Reconheci a neta menina, mandei-lhe um beijo.
Sacudi o envelope de monótono exterior, e fascinante colorido interior.
Dele, devem ter saltado minúsculas e invisíveis partículas de passado, que o meu olhar não identificou, mas minha alma sentiu e aqueceu-se toda nas lembranças.
Arrepiou-se ao contato do primeiro homem, doeu-se quando ele se foi, doeu-se  novamente quando outros se foram, enroscou-se na  ternura  dos cabelos dos filhos,  chorou  agonias, protestou incertezas, aninhou-se em colos amigos, colheu júbilos, brilhou na luz própria.
Preciso lembrar-me do nome da tia que guardou por tanto tempo, num fundo de gaveta qualquer, este verdadeiro tesouro em forma de pedaços de papel aparentemente sem valor.
Ser-lhe grata pelo valioso presente.
Mandar flores, quem sabe, e quem sabe para onde.
A parenta portadora sumiu no poente.
O tempo apagou os rastros.
Agora, sou eu e as minhas lembranças.
Seria uma oração boa paga?
Sim, talvez a melhor!
Bendita seja, a tia.

                                                                     Eliane Ratier

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Concurso de Crônicas da ALARP

Amigos, é com muita alegria que partilho com vocês a notícia da premiação do concurso de crônicas da ALARP, onde fui classificada em primeiro lugar e os convido para a premiação, neste dia 08 de novembro, às 20:30 horas, no teatro Minaz.


Vencedores do 3º Concurso Literário de Crônicas ALARP

1ª Lugar: Eliane Carou Ratier
2º Lugar: Célia Apparecida Silli Barbosa
3º Lugar: Rita Marciano Mourão
4º Lugar: Amanda de Souza Furlan

 A Premiação será dia 08/11/2011 (amanhã) na 7º Noite das Artes - Sarau Lítero Musical - ALARP 30 anos e premiação do 3º Concurso Literário de Crônicas - ALARP.
Horário: 20h30
Local: Teatro Minaz
Rua: Carlos Chagas, 259 Jardim Paulista - Ribeirão Preto.