sábado, 16 de julho de 2011

valter hugo mãe- carta

 http://youtu.be/euD46SXKaOc


Carta de valter hugo mãe para a Flip
"Quando eu tinha 8 anos veio morar para a casa ao lado da do
Carta de valter hugo mãe para a Flip
"Quando eu tinha 8 anos veio morar para a casa ao lado da dos meus pais um casal de brasileiros com duas filhas moças. Ao chegar, o casal ofereceu uma ambulância ao quartel de bombeiros da nossa vila e toda a vila se emocionou. Foram os primeiros brasileiros que eu vi fora da tv, fora das novelas. Eu e os meus amigos fomos ao quartel dos bombeiros apreciar a ambulância nova, bem pintada, que se mostrava a todos como prova bonita da bondade de alguém. O meu pai tinha um carro pequeno, velho, difícil de levar a família inteira dentro. A ambulância era enorme, um luxo, como se fosse para transportar doentes felizes. Eu e os meus amigos ficamos estupefactamente felizes.

Depois, algumas mulheres e alguns homens mais delicados reuniam-se diante da senhora e das moças brasileiras e faziam perguntas sobre as novelas. Naquele tempo, passavam com muito atraso em relação ao Brasil, e todos queriam saber avidamente quem casava com quem na Gabriela.

A senhora e as suas duas filhas, porque sabiam o que ia acontecer nas novelas, eram aos olhos de todos como adivinhas, gente que via coisas do futuro, gente que viveu o futuro e que se juntou a nós para reviver o passado. Por causa disto, eram mágicas e as pessoas queriam a opinião delas para cada decisão.

A minha mãe pediu à nova vizinha a receita para fazer pizza, porque ainda não havia pizzarias e só víamos nas revistas como deviam ser bonitos e saborosos aqueles círculos de pão e queijo coloridos pousados nas mesas. Passámos a comer uma pizza de atum com muitas azeitonas pretas. Ainda hoje peço nos restaurantes pizza de atum com a esperança de que seja exactamente igual à da minha infância, mas nunca é.

As moças brasileiras eram mais velhas do que eu e ficaram amigas das minhas irmãs. As minhas irmãs saíam com elas à rua inchadas de orgulho, porque as pessoas todas, sempre comovidas com a ambulância, fazia vénia e sorriam. Havia gente que dizia que as moças brasileiras eram as mais belas de todas. Elas eram, na verdade, sorridentes, e eu senti que também seriam muito felizes na nossa pequena vila.

Um dia a minha imã mais velha fez anos e foi festejá-los com uma festa na garagem das brasileiras. Na noite desse dia, ali pelas oito horas, uma outra menina, filha de um vizinho português, mostrou-me tudo. Não foi a primeira vez, mas eu queria sempre ver, embora ela não quisesse sempre mostrar. Um amigo meu surpreendeu-nos e quis ver também, mas a menina respondeu que não. Ela disse que mostrava apenas a mim porque eu era amigo das brasileiras. Entendi que as brasileiras eram como um toque de Midas que me transformava num menino de ouro.

Aos dezoito, aquele que é o meu amigo mais irmão chegou do Brasil e ingressou na minha escola. Eu instintivamente corri atrás dele. Queria ser amigo dele como se fosse vital para mim. Ele mostrou-me Titãs e Legião Urbana. Eu achava que o Renato Russo ia salvar a minha vida com aquela canção do Tempo perdido. Quando o Renato Russo morreu, chorei muito e passei só a chorar quando ouço o Tempo perdido. Eu não sei se a arte nos deve salvar, mas tenho a certeza de que pode conduzir ao melhor que há em nós, para que não nos desperdicemos na vida.

O Alexandre, esse meu amigo brasileiro, mudou tudo em mim para melhor. Adorava viajar de comboio com ele quando entalávamos as meias mal cheirosas nas janelas para que arejassem durante a marcha. Nesse tempo, o Alexandre ensinou-me a perder aquela vergonha que só atrapalha. Porque os portugueses sempre foram meio envergonhados.

Hoje, temos quase quarenta anos, ele casou com uma portuguesa e tem filhos. Eu, não. Fiquei para tio a escrever romances, e os romances tornaram-se fundamentais na minha vida, como a máquina de fazer espanhóis. Sonhei sempre em vir ao Brasil e vim várias vezes, faltava vir como escritor, publicado e recebido. Pois aqui estou, a Flip fez isso, não esquecerei nunca, sinto que fazem de mim um homem de ouro, agradeço a todos muito por isso."

- valter hugo mãe, 8 de julho de 2011, Flip
s meus pais um casal de brasileiros com duas filhas moças. Ao chegar, o casal ofereceu uma ambulância ao quartel de bombeiros da nossa vila e toda a vila se emocionou. Foram os primeiros brasileiros que eu vi fora da tv, fora das novelas. Eu e os meus amigos fomos ao quartel dos bombeiros apreciar a ambulância nova, bem pintada, que se mostrava a todos como prova bonita da bondade de alguém. O meu pai tinha um carro pequeno, velho, difícil de levar a família inteira dentro. A ambulância era enorme, um luxo, como se fosse para transportar doentes felizes. Eu e os meus amigos ficamos estupefactamente felizes.

Depois, algumas mulheres e alguns homens mais delicados reuniam-se diante da senhora e das moças brasileiras e faziam perguntas sobre as novelas. Naquele tempo, passavam com muito atraso em relação ao Brasil, e todos queriam saber avidamente quem casava com quem na Gabriela.

A senhora e as suas duas filhas, porque sabiam o que ia acontecer nas novelas, eram aos olhos de todos como adivinhas, gente que via coisas do futuro, gente que viveu o futuro e que se juntou a nós para reviver o passado. Por causa disto, eram mágicas e as pessoas queriam a opinião delas para cada decisão.

A minha mãe pediu à nova vizinha a receita para fazer pizza, porque ainda não havia pizzarias e só víamos nas revistas como deviam ser bonitos e saborosos aqueles círculos de pão e queijo coloridos pousados nas mesas. Passámos a comer uma pizza de atum com muitas azeitonas pretas. Ainda hoje peço nos restaurantes pizza de atum com a esperança de que seja exactamente igual à da minha infância, mas nunca é.

As moças brasileiras eram mais velhas do que eu e ficaram amigas das minhas irmãs. As minhas irmãs saíam com elas à rua inchadas de orgulho, porque as pessoas todas, sempre comovidas com a ambulância, fazia vénia e sorriam. Havia gente que dizia que as moças brasileiras eram as mais belas de todas. Elas eram, na verdade, sorridentes, e eu senti que também seriam muito felizes na nossa pequena vila.

Um dia a minha imã mais velha fez anos e foi festejá-los com uma festa na garagem das brasileiras. Na noite desse dia, ali pelas oito horas, uma outra menina, filha de um vizinho português, mostrou-me tudo. Não foi a primeira vez, mas eu queria sempre ver, embora ela não quisesse sempre mostrar. Um amigo meu surpreendeu-nos e quis ver também, mas a menina respondeu que não. Ela disse que mostrava apenas a mim porque eu era amigo das brasileiras. Entendi que as brasileiras eram como um toque de Midas que me transformava num menino de ouro.

Aos dezoito, aquele que é o meu amigo mais irmão chegou do Brasil e ingressou na minha escola. Eu instintivamente corri atrás dele. Queria ser amigo dele como se fosse vital para mim. Ele mostrou-me Titãs e Legião Urbana. Eu achava que o Renato Russo ia salvar a minha vida com aquela canção do Tempo perdido. Quando o Renato Russo morreu, chorei muito e passei só a chorar quando ouço o Tempo perdido. Eu não sei se a arte nos deve salvar, mas tenho a certeza de que pode conduzir ao melhor que há em nós, para que não nos desperdicemos na vida.

O Alexandre, esse meu amigo brasileiro, mudou tudo em mim para melhor. Adorava viajar de comboio com ele quando entalávamos as meias mal cheirosas nas janelas para que arejassem durante a marcha. Nesse tempo, o Alexandre ensinou-me a perder aquela vergonha que só atrapalha. Porque os portugueses sempre foram meio envergonhados.

Hoje, temos quase quarenta anos, ele casou com uma portuguesa e tem filhos. Eu, não. Fiquei para tio a escrever romances, e os romances tornaram-se fundamentais na minha vida, como a máquina de fazer espanhóis. Sonhei sempre em vir ao Brasil e vim várias vezes, faltava vir como escritor, publicado e recebido. Pois aqui estou, a Flip fez isso, não esquecerei nunca, sinto que fazem de mim um homem de ouro, agradeço a todos muito por isso."

- valter hugo mãe, 8 de julho de 2011, Flip

Carol Ann Duffy e o poema do casamento real


Deste casamento já falei, acusada de alienada por acreditar em contos de fadas.
E eis que a Flip, trouxe este ano a poeta britânica laureada com título oficial do reino unido, Carol Ann Duffy, ainda não editada no Brasil.
Em entrevista à Flip, Carol nomeia dois de seus livros como os , por ela recomendados, para servirem de apresentação ao público brasileiro: The World's Wife e Rapture.
De "canja" leu o poema feito para as recentes bodas reais britânicas, e que transcrevo aqui. 
Deixem-se circundar por esta delícia anelar. 
Quem quiser saber mais sobre este tema pode acessar a página de origem:

for both to say
I might have raised your hand to the sky
to give you the ring surrounding the moon
or looked to twin the rings of your eyes
with mine
or added a ring to the rings of a tree
by forming a handheld circle with you, thee,
or walked with you
where a ring of church-bells,
looped the fields,
or kissed a lipstick ring on your cheek,
a pressed flower,
or met with you
in the ring of an hour,
and another hour . . .
I might
have opened your palm to the weather, turned, turned,
till your fingers were ringed in rain
or held you close,
they were playing our song,
in the ring of a slow dance
or carved our names
in the rough ring of a heart
or heard the ring of an owl's hoot
as we headed home in the dark
or the ring, first thing,
of chorussing birds
waking the house
or given the ring of a boat, rowing the lake,
or the ring of swans, monogamous, two,
or the watery rings made by the fish
as they leaped and splashed
or the ring of the sun's reflection there . . .
I might have tied 
a blade of grass,
a green ring for your finger,
or told you the ring of a sonnet by heart
or brought you a lichen ring,
found on a warm wall,
or given a ring of ice in winter
or in the snow
sung with you the five gold rings of a carol
or stolen a ring of your hair
or whispered the word in your ear
that brought us here,
where nothing and no one is wrong, 
and therefore I give you this ring.

Gonzalo Aguillar, confissões de um argentino

Depois de ver esta entrevista eu tenho certeza que você, brasileiro, enxergará os argentinos, arquirivais, com olhos de cúmplice irmandade.
Divirtam-se!

http://www.flip.org.br/blog.php?param=2011/07/09/sobremesa-com-gonzalo-aguilar/

valter hugo mãe

http://www.flip.org.br/blog.php?param=2011/07/09/sobremesa-com-valter-hugo-mae/

segunda-feira, 4 de julho de 2011

O sarau da Paraler, Aniversário de Ribeirão Preto- 14 de junho

Amigos o sarau da Paraler deste mês de junho, homenageou a cidade de Ribeirão Preto pelo seu aniversário de 155 anos e a própria Paraler pelo aniversário de 36 anos, além de comemorar o aniversário dos geminianos presentes, como o meu e da Cristiane Bezerra, e do poeta de devoção Fernando Pessoa.
Preparar o sarau é como preparar um presente.
O tema, os convidados, a elaboração do convite, o chamamento dos amigos e poetas, as lembrancinhas, os textos impressos, o texto de abertura, a produção do espaço e até um ou outro mimo, como os sorteios, ou petiscos, são embrulhados com carinho para que todos tenham um tempo agradável.
Neste sarau não foi diferente, mas mesmo assim digo que foi especial.
Cristiane Framartino Bezerra falou sobre a "sua" Ribeirão e nos encantou com sua visão amorosa e amistosa da cidade marcada pela gratidão, respeito e reconhecimento que ela tem por todos que fazem o seu caminho. Tratamento este, do qual Cristiane se faz também, grande merecedora por sua atuação cidadã dentro da administração pública durante todo este tempo.
Por estas e por todas a Cris merece todo o nosso carinho, gratidão respeito e reconhecimento pelo que ela é e faz.
Beijo-te amiga, coração no coração neste abraço de fé, nesta comunhão de amor.
Para abrilhantar a parte musical, tivemos nada menos que Gustavo Molinari ao piano, Leandro, Carol  e Carla Barreto no  canto.
Amigos, confesso que quase larguei o microfone e tomei assento para usufruir do bom que foi.
Gustavo é sempre o companheiro entuasiasta e disposto que traz um piano para dentro da Paraler.
Não sei como, mas ele se materializa lá dentro. E Gustavo toca lindamente.
Aí vem o Leandro, jovem, bonito, a voz de anjo seresteiro, o sorriso franco de menino, e a gente fica com vontade de levá-lo para casa, e olha, tem mais, ele dança, e dança com uma tranquilidade que tirou a Cristiane para dançar na pausa do canto.
E Carol?
Bem , Carol é a menina de 16 anos que faz canto lírico, aluna da Carla Barreto, e que transparece no sorriso seu prazer em cantar, causando em nós um extremo prazer em ouví-la.
Sabem que ela cantou a música da Branca de Neve?
Um arraso meus bens. Um arraso!!
Então aí vem a Carla Barreto, a voz que preenche o ambiente de pérolas sonoras, e nos rendemos de vez.
Leandro e Carol são lindos, mas Carla é impressionante.
E nós, que estivemos no sarau, somos privilegiados por tê-los tido ali,pertinho, bem pertinho.
Obrigada amigos, com a alma em festa e sorrisos sou lhes imensamente grata.
Costurando as atrações, os meus colegas de ofício, os autores e poetas da terra: Vera Regina, Nelly Ciryno, Jair Yanni, e ainda vou lembrar de mais uns tantos.
A casa? Cheia.
Preparei o presente e fui presenteada.
A todos que por lá estiveram, meus agradecimentos e meu carinnho.