domingo, 30 de outubro de 2016

Livros- Memórias de Uma moça bem comportada- Simone de Beauvoir




Simone de Beauvoir sempre foi uma curiosidade em pauta.
Livro reservado para leitura oportuna. A lembrança desta oportunidade aconteceu no final do ano de 2015 através do " amigo secreto"do grupo de leitura, quando recebi o livro de presente.
Era a hora!
Iniciei a leitura, livro longo de letras miúdas, algo desconfiada de alguém que conta em minúcias seus dias,atos, em análise constante de si.
Acabei mergulhada na vida de Simone moça, sem querer sair dalí.
Um  encontro, conhecimento, reconhecimento, caminhos trilhados por outra pessoa mas que tanto dizem a mim como se fossem meus e dos meus próximos.
E isso foi há muito tempo, no século passado.
Ainda curiosa quero mais Simone.
Simone foi uma pensadora, escritora, estudiosa, nascida em 9 de janeiro de 1908 e falecida em 14 de abril de 1986.
 "De vez em quando, olhava os outros leitores e afundava com satisfação em minha poltrona: estava no meu lugar, entre os eruditos, os sábios, os pensadores, os pesquisadores. Não me sentia absolutamente mais rejeitada pelo meu meio: eu é que o abandonara a fim de entrar nessa sociedade de que via ali uma miniatura, e na qual comungavam através do espaço e dos séculos todos os espíritos interessados na verdade."

Carlos Drummond de Andrade




Carlos Drummond de Andrade- o poeta do mês de outubro, dia 31

Drummond nasceu em minas, na Itabira de ferro.
Morou em Belo Horizonte, foi para o colégio interno, foi para o Rio, outro colégio, foi expulso dele, decidiu ser farmacêutico , fez faculdade, não foi, tentou ser professor, não deu, ingressou no serviço público e ficou, exemplar.
Ocupou posições importantes pela mão dos amigos de colégio.
Casou-se, procriou, escreveu muito.
Jornalista, contista, cronista, tradutor, poeta.
O lirismo, o humor, o sarcasmo, a modernidade , o contemporâneo e um certo e constante tom de cinza povoam a  paisagem de seus versos.
Tudo muito bom!
Nada muito fácil!
Comecemos pelo polêmico poema da pedra. O poema – escândalo.
No meio do caminho


No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.


Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
 
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.


O questionamento do mundo na pessoa do José.

JOSÉ

             E agora, José?
          A festa acabou,
          a luz apagou,
          o povo sumiu,
          a noite esfriou,
          e agora, José?
          e agora, você?
          você que é sem nome,
          que zomba dos outros,
          você que faz versos,
          que ama, protesta?
          e agora, José?
          Está sem mulher,
          está sem discurso,
          está sem carinho,
          já não pode beber,
          já não pode fumar,
          cuspir já não pode,
          a noite esfriou,
          o dia não veio,
          o bonde não veio,
          o riso não veio
          não veio a utopia
          e tudo acabou
          e tudo fugiu
          e tudo mofou,
          e agora, José?
          E agora, José?
          Sua doce palavra,
          seu instante de febre,
          sua gula e jejum,
          sua biblioteca,
          sua lavra de ouro,
          seu terno de vidro,
          sua incoerência,
          seu ódio - e agora?
          Com a chave na mão
          quer abrir a porta,
          não existe porta;
          quer morrer no mar,
          mas o mar secou;
          quer ir para Minas,
          Minas não há mais.
          José, e agora?
          Se você gritasse,
          se você gemesse,
          se você tocasse
          a valsa vienense,
          se você dormisse,
          se você cansasse,
          se você morresse...
          Mas você não morre,
          você é duro, José!
          Sozinho no escuro
          qual bicho-do-mato,
          sem teogonia,
          sem parede nua
          para se encostar,
          sem cavalo preto
          que fuja a galope,
          você marcha, José!
          José, para onde?
  

A saudade da essência. Confissões do Itabirano
Confidência do Itabirano 
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
[comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e
[sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói! 

O tempo que já chegou.
Os Ombros Suportam o Mundo
Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


domingo, 23 de outubro de 2016

Livros- A Bruxinha que caiu da vassoura- Cristiane Framartino Bezerra



Segundo livro da Coleção Borboleta Bela de Cristiane Framartino Bezerra, o primeiro foi "O menino e o mistério do arco-iris", dedicado ao público infanto-juvenil de todas as idades, ilustrado por Bárbara Glenda.
Cheio de magia e encantamento o livro traz em seu enredo boas possibilidades de expansão.
Material para boas conversas, leituras compartilhadas entre colegas, pais e filhos, irmãos.
Parabéns, Cristiane!
Que venham os próximos!!

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Bem sucedido!



Hoje fui fazer os exames de saúde, rotina.
A médica que me atendeu , na clínica luxuosa e confortável que atende o meu convênio, é uma mulher  jovem, bonita, bem vestida, certamente realizada em sua profissão e bem sucedida financeiramente, que estava ligeiramente irritada, cansada e grávida.
Encantei-me, como de costume, com a gestante e sua beleza indisfarçável. Beleza que nem ela mesma tem consciência, tão natural que é.
Entre um exame e outro conversamos sobre a gravidez, os filhos, ela já tem um pequeno e espera o segundo. Relatando seu cotidiano percebi o porquê de sua irritação.
Vi nela o meu próprio retrato. Tenho  duas filhas grandes e vivi o que ela vive.
Meu coração encheu-se de solidária ternura.
O tempo passa e nada muda na situação da mulher, porque não tem nada para ser mudado.
A questão biológica da maternidade credencia a mulher como cuidadora primeira do filho.
É possível e desejável ter ajuda mas a mulher que opta pela maternidade quer ser mãe e exercer os cuidados cotidianos. Faz parte da função.
A mulher moderna é educada para a profissão e tem muito sucesso nela porque é dedicada e capaz.
Mas, como mulher, tem também seu lado pessoal que inclui família e casa. E não me venham com essa "que homem também tem"  porque é social e biologicamente diferente.
Então, esta profissional dedicada chega em casa e ainda vai cuidar do filho, da casa, de si.
Mesmo que tenha ajuda, como tem, termina o dia exausta.
Passei por isso e as mulheres de todas as classes sociais continuam passando.
Fiquei morrendo de vontade de dar um conselho.
Mas, se conselho fosse bom não seria dado, seria vendido.
Então calei-me e coloco aqui o meu pensar
É preciso qualificar o sucesso.
Ser bem sucedido é poder suprir-se com o necessário e o desejado.
Para esta mulher, que tem suas necessidades básicas materiais bem supridas, o necessário seria o tempo para o exercício de seu desejo, sua escolha pela maternidade.
Escolha perfeitamente válida e que merece o tempo para  ser vivida.
Tempo para banhar, alimentar, brincar e ouvir o filho, tempo para gestar,  preparar e sonhar o futuro de uma nova vida, tempo para cuidar da energia acolhedora do lar, tempo para sentir-se feliz.
Ser bem sucedido é  poder dar-se este tempo, trabalhar menos, para ser mais.
O sucesso é desejar e realizar o que realmente é importante para si no momento, independente do que seja, e ser honesto neste desejo, sem cair nas armadilhas sociais e comerciais.
Pena que na juventude poucos saibam disso.
E o tempo, amigo, passa.
As crianças crescem, os cônjuges envelhecem, a saúde deteriora.
O tempo é agora!!

PS: A clínica passou por uma reforma e, pela remoção de uma divisória, apareceu, magicamente, uma grande janela com uma vista magnífica. Nem a secretária tinha reparado nela!


domingo, 16 de outubro de 2016

Livros- Poemas Siderais- Alexandre Azedo, André Luis Oliveira, Arnaldo Júnior, Marciano Vasques, Renato Andrade





Com André Luis, um dos autores dos Poemas Siderais

Comprei o livro , dedicado ao público infantil, e já o coloquei em teste, pelo público alvejado, num sarau no Sesc.
Sucesso pretendido? Sucesso alcançado!
Com poemas satíricos, didáticos e líricos na boa linguagem rimada e ritmada dos poetas, e com as também poéticas ilustrações de Renato, o livro é uma delícia.
 " Meninos da noite- Arnaldo Júnior

Às vezes fico olhando
O céu infinito
E chego a pensar
Que não há nada mais bonito.
Olho as estrelas
E fico imaginando
Que em cada uma delas
Também deve ter
Um menino olhando
Para o céu
Assim como eu.
E meu coração pula de alegria
Só de saber
Que nas noites estreladas
Tenho companhia. "

domingo, 9 de outubro de 2016

Livros- 88.com- Camilo Xavier




Livro de poemas do dr Camilo Xavier , comemorando a idade dos 88, agora já 89, trazendo a voz entusiasta deste eterno jovem.
Poemas que trazem sua visão de mundo, poemas-homenagem à situações e pessoas, até poema para os ossos, seu objeto de trabalho de toda vida.
Livro lindo em capa dura e sobrecapa, um luxo, que tive a honra de apresentar no lançamento em 2015.
Iniciada a leitura na ocasião e só terminada agora, em julho de 2016.
O tempo da poesia é sempre!!!

" Sorriso

É preciso saber o que pretendes;
se um dia fores apanhado
sentado, sozinho e rindo,
vão procurar esclarecer,
quem tu és
e o que desejas,
em que contexto estás inserido
será que poderpas explicar
 o motivo que te traz o riso à boca?
Bem poderia ser uma recordação,
de algo prazeroso anteriormente vivido
ou bem poderia ser
que o riso mesmo
no momento te mostrasse
como é bom sorrir,
sorrir sempre,
sorrir de novo
e dizer que esse sorriso, no seu rosto estampado,
é a forma mais simples,
de viver o dia de hoje
e de relembrar o que sobrou do passado.  "

quinta-feira, 6 de outubro de 2016

Usando o corpinho




Uma coisa é certa: Enquanto estivermos vivos: Vivamos!!
Vivamos bem, com saúde , usufruindo deste nosso equipamento de vida, o corpo.
Para isso é obrigatório cuidar dele.
Para o bem próprio e do próximo.
Houve um tempo em que pensei que decretaria minha liberdade aos 40 anos, comendo o que desejasse na quantidade que desejasse.
Que engano!
Quanto mais se cresce em idade mais cuidado tem que se ter com a saúde, incluindo o que se come, como se come e quanto se come. E , mesmo com todos os cuidados , nada é garantido.
Caprichar nas verduras e frutas nem sempre mantém seu colesterol nos níveis adequados, questão de pele, enzimas, herança, DNA, metabolismo, hormônios , coisas que independem do seu controle.
Uma coisa parece certa: Para manter o organismo funcionando bem é bom que o mantenhamos em movimento.
Como todos os do time dos sedentários por acomodação, vivo cavando desculpas esfarrapadas para não me mexer, até que um belo dia, sabe-se lá porquê, vou e me mexo. Daí gosto e me arrependo do tempo parado.
Está acontecendo agora, este tempo de entusiasmo pelo movimento.
Meu corpo é grato por isso e me responde com mais disposição e menos dor.
Tenho, como todos tem ou terão, dores sem solução.
O exercício facilita minha convivência com elas, fortalece o músculo que segura ossos no lugar, protege articulações e todas as benesses daí advindas.
Se errei nesta fisiologia, corrijam-me os ortopedistas.
Ando lenta na procura , na descoberta do que me deixa feliz em matéria de exercício.
Por isso, só agora, depois que houve uma mudança à revelia, é que descobri o caminho.
Bendita seja!!
Reencontrei-me com a dança.
A liberdade está lá, nos movimentos propostos, no ritmo e tempo impostos, na oportunidade de felicidade.
O retorno é feito com gosto e cautela, alcancei a idade dos delicados.
Há um ganho imenso que me permite avaliar toda a riqueza do que ali se faz, o zelo do professor, sua dedicação e oferta de sonhos e possibilidades, seu incentivo a um "sim".
Sim, tudo acontece a partir de um "sim".
Preservo minha felicidade em silêncio, reeduco meu corpo no movimento, tenho fé na recuperação da harmonia cinética.
Sinto-me bem!
E principalmente, estou feliz com isso.

domingo, 2 de outubro de 2016

Livros- Urupês- Monteiro Lobato



A gente fica até sem saber como ficou tanto tempo sem ler Monteiro Lobato !!
Penso que talvez sua personalidade intensa, suas posições políticas, suas colocações para lá de francas possam ter causado alguma confusão em sua vida, impedindo uma maior apreciação de sua obra.
Mas, atenção, seja o que for, Monteio Lobato é leitura que deveria ser feita na escola.
Indicação do Grupo de Leitura, Urupês, que também já havia sido citado pela mestra Ely Vieitez Lisboa em palestra anos atrás, era sementinha plantada de curiosidade e desejo.
Com uma linguagem que é puro deleite, ritmo de poeta, neologismos e resgates vocabulares, imagens de singular beleza e outros tantos recursos estilísticos, a prosa de Monteiro Lobato traz assuntos da época carregados de atualidade, clareia origens, reconta histórias que conhecemos de cor.
Urupês é livro de contos narrados com a ciência prática da vivência.
Humor e crítica social  também são constantes na escrita.
Rico em referências! Suspeito que deixei escapar mais da metade delas.
Lobato bebeu nas fontes dos que o antecederam e tenho certeza de que foi bebido pelos contemporâneos e sucedâneos.

"A quarto de legua do arraial do Atoleiro começam as terras da fazenda de igual nome, pertencente ao major Zé Lucas. A meio entre o povoado e o estirão das matas virgens dormia de papo acima um famoso pântano. Pègo de insidiosa argila negra fraldejado de velhos guaiambés nodosos, a tabôa esbelta cresce-lhe á tono, viçosa na folhagem erectil que as brisas tremelicam."
Trecho do conto "Bocatorta" respeitando a grafia original da 31ª edição, Brasiliense, 1985.