terça-feira, 21 de setembro de 2010

Arca Cultural- Otoniel Mota


Então foi assim.
Fui convidada para a solenidade de abertura da Arca Cultura, no Otoniel Mota, pela querida Heloísa e pelo Dr Camilo, presidente da Academia Ribeiropretana de Letras, ARL.
Cheguei algo cedo, o que é raro, e logo no estacionamento,encontrei duas amiguinhas que também chegavam para o evento.
Subimos os poucos degraus da entrada do imponente prédio histórico do colégio, e logo à porta, um jovem muito solícito, nos indicou o caminho, sem que nada perguntássemos. Era o Jorge, diretor da escola.
O nosso caminho começava por uma escada, de muitos degraus, colorida pelos vitrais da janela antiga e alta e encimada por arcadas que delimitam o andar superior.
A subida foi difícil. Não somos mais meninas.
Os joelhos das amigas rangiam, mesmo assim elas me precediam e me apressavam.
Eu não senti o peso da idade, mas fui paralisada por uma súbita emoção.
Subia os degraus um à um, numa tentativa de sorver naquele pouco tempo de um ato trivial, toda uma vida não acontecida, todos os passos não dados, os risos que naqueles corredores não ecoaram, as saias pregueadas e as camisas brancas que por ali não passaram.
Estava no Otoniel Mota, escola para mim prometida desde meus oito anos de idade, e só naquela hora , 40 anos depois, cumprida.
Pisava pela primeira vez na escola que formou gerações de onde surgiram e ainda surgem expoentes em todas as áreas.
O Otoniel é escola tradicional.
Na minha época,quando era comum estudar-se na escola pública, era o caminho natural daqueles que se preocupavam com a qualidade do ensino.
O grupo era feito no Guimarães Junior, onde estudei, e o ginásio e o colegial, no Otoniel Mota.
Quando foi minha hora de ingressar na escola, eu me mudei de cidade, fui para Jundiaí, e o Otoniel ficou aqui, guardadinho numa dobra do tempo.
Voltei à Ribeirão para cursar a faculdade da USP, outro lugar mágico, este sim, bem vivido e vivenciado, deixando para trás esta lacuna no meu passado.
Com dificuldade saí do meu devaneio, mas guardei, como uma jóia, a emoção inesquecível de estar ali.
Resolvi terminar de subir as escadas quando percebi que o tempo não para e que, de adiantada poderia virar atrasada.
No meu caminho, mais deleites, um piso com sua estampa original, batentes largos denunciando a largura das paredes( mais de 30 cm), portas altas, tudo limpo e cuidado.
À porta um amigo me saudava, pegou-me de olhos molhados, sem explicação possível.
Ao fim do evento, seguimos em excursão pelo prédio.
Uma das paradas foi na biblioteca, onde aconteceu o golpe de misericórdia.
Numa sala, de pé direito alto e estantes escuras, abarrotadas até o teto de livros de todos os tamanhos e tipos de encadernações, muitos com lombadas de escritos gastos, sem leitura, funciona a biblioteca da escola.
Senti que ali poderia morrer, de uma morte mais do que poética, e me decompor e me dissolver, e ser parte daquilo tudo, como se sempre tivesse assim existido.
Não sei se há um novo acervo, creio que sim,o estado tem investido horrores em livros para aparelhar suas bibliotecas, mas isto é assunto para outra hora,e confesso que nem me importa.
Aquela é uma sala preciosa, com o que há nela, e eu a venero, como um santuário por abrigar em si um inestimável tesouro, feito de palavras escritas em papel velho.

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