domingo, 17 de outubro de 2010

Notícias Poéticas- outubro de 2010





Notícias poéticas- outubro de 2010

Minha cidade é um jardim comunitário, um pomar público.
Há mangueiras pejadas de frutos que amadurecem róseos.
Invejo os que passam à pé, e desejo que os alcancem por mim, que tenho andado cotidianamente motorizada.
Pitangas, amoras e jabuticabas escondidas nos quintas, espalham seus frutos por sobre os muros, através das grades, nas calçadas, nas guias rebaixadas, como pistas, atiçando nosso desejo de as buscar.
Requintadas e misteriosas romãs ocultam suas sementes sensualmente meladas, por entre as folhagens de antigos jardins.
Numa rua são Manacás que perfumam sorrateiros o ar, noutra atordoantes Damas da Noite embriagam os passantes.
Flamboyans insinuam seus borrões de vermelho sangue, vida por entre o verde novo.
A escandalosa Sapucaia tinge com flores rosa o chão da praça, e os Jacarandás, discretos, providenciam um fino tapete lilás sob si.
Reinam absolutos os amarelos das Sibipirunas enlouquecendo os varredores das ruas, pintando de alegria o caminho do trabalho, lembrando que a vida continua, forte, linda e indomável apesar do nosso descaso e de nossa sede por poder e controle.
Penso naqueles que plantaram as sementes sem ver as flores nem os frutos, apenas cumprindo sua função de plantar, e em nós, que usufruímos deste presente sem deles nos lembrar.
Ofereço-lhes uma prece de gratidão.
Beleza é alimento tão essencial quanto o pão.
Aproveitem este outubro florido, saiam à passeio, alimentem-se de beleza.

Quebrando a tradição, deixo para vocês um trecho de poema antigo, do livro Estréia Poética, que foi inspirado nas Sibipirunas floridas da avenida 9 de julho, aqui de Ribeirão Preto, onde eventualmente faço minhas caminhadas sobre o lodo amarelo das flores pisadas.

Aniversário de casamento- trecho

Meu amor é tão grande
Que não cabe no peito
Desmonta os montes
Floresce no arvoredo
Escapa pelas frestas
Consome
E nada resta.


Eliane Ratier

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