quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Convivendo 2




Outro dia, falei aqui dos desacertos da convivência, dos esbarrões, das ruidosas comunicações.
Hoje, falarei de outro aspecto da mesma convivência, a cumplicidade.
Quando nos dispomos a estar junto com alguém, há um motivo.
Seja na convivência familiar, afetiva ou de trabalho, há um objetivo e, por honra e glória deste, um esforço comum.
Daí surge naturalmente a parceria, a cumplicidade.
Na família sabemos a quantos bifes temos direito em um refeição. Colocamos o tapete em cima da mancha do piso quando a visita vem. Usamos as xícaras desbeiçadas  no dia a dia para poupar a boa louça dos acidentes. Mudamos de assunto quando percebemos o terreno perigoso. Auxiliamos sem que nos peçam e sem necessidade de agradecer. Arrumamos a sala que não é nossa, mas que é da família. Somos guardiões da intimidade, protegemos, informamos, nos apoiamos , damos as mãos , choramos e rimos, sem explicação, sem necessidade de dar ao ambiente social nenhuma satisfação.
E assim, em família , somos um.
No campo afetivo, este tão delicado sítio de amores e amigos, a mesma regra é seguida e é quase questão ética preservar , às vezes eternamente,  o sigilo das confissões, os pequenos vícios particulares. Há ainda uma norma de conduta que aponta para a fidelidade , termo com definição subjetiva, e a exclusividade , esta objetiva, não colocando todos no mesmo balaio , tratando cada qual com a distinção merecida, mas respeitando as normas não declaradas dos grupos.
Difícil equilíbrio, quase uma arte que tratamos de exercer para preservar as delícias dos afetos e das amizades.
No trabalho não é diferente. Tomamos o café ruim da repartição e trazemos um bom de casa para servir ao inspetor quando ele vem. Limpamos a papelada das mesas, entulhamos gavetas quando o dia é de festa e as portas estarão abertas. Colocamos um sorriso no rosto e ombreamos aquele colega trabalhoso quando se faz necessário representar a classe. Fingimos satisfação mesmo quando não há papel higiênico nos banheiros. Improvisamos caixinhas e avisos para melhorar fisicamente o cotidiano. Confortamo-nos na partilha das misérias e das inadequações. Colocamos o vestido de festa e posamos para a foto anual da empresa apesar dos ventiladores quebrados, das grosserias dos chefes e das puxadas de tapete dos colegas.
Enfim!!! Somos cúmplices !!!
E ai de quem se puser a criticar o grupo!!!
Juramos todos que estamos bem e somos ótimos!!!
Na intimidade lavamos , quaramos e remendamos nossa roupa usada e suja.
Ainda bem que é assim!

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