quarta-feira, 15 de junho de 2016

Raimundo Correia- o poeta de maio



Olá, escolhi falar sobre um autor aniversariante do mês nas minhas postagens no blog da Revista Revide  http://www.revide.com.br/blog/eliane-ratier
Em maio foi a vez de Raimundo Correia..
Raimundo Correia, poeta parnasiano, nascido no Maranhão em 1859, e falecido em Paris em 13  de setembro de 1911, foi advogado, professor, embaixador. Esteve entre os fundadores  da Academia Brasileira de Letras dando nome à cadeira número 5.
Morou no Rio, São Paulo,São João da Barra, Vassouras, São Gonçalo do Sapucaí, Ouro Preto, Lisboa, Niterói e finalmente em Paris, onde foi em busca de tratamento médico e onde faleceu.
Como andou este nosso poeta!!
Formou junto com Olavo Bilac e Alberto de Oliveira a e trindade parnasiana.
O parnasianismo foi um moviemento literário, que teve seu apogeu no século XIX.
O estilo parnasiano prima pelo rigor com a língua e trata de temas objetivos,históricos, de natureza, muitas vezes com alusões à mitologia greco romana.
Uma poesia descritiva, como se nos mostrasse uma paisagem.
Apreciemos.
As pombas
Raimundo Correia

Vai-se a primeira pomba despertada...
Vai-se outra mais... mais outra... enfim dezenas
De pombas vão-se dos pombais, apenas
Raia sanguínea e fresca a madrugada...
E à tarde, quando a rígida nortada
Sopra, aos pombais de novo elas, serenas,
Ruflando as asas, sacudindo as penas,
Voltam todas em bando e em revoada...
Também dos corações onde abotoam,
Os sonhos, um por um, céleres voam,
Como voam as pombas dos pombais;
No azul da adolescência as asas soltam,
Fogem... Mas aos pombais as pombas voltam,
E eles aos corações não voltam mais...
Mal Secreto
Se a cólera que espuma, a dor que mora
N’alma, e destrói cada ilusão que nasce,
Tudo o que punge, tudo o que devora
O coração, no rosto se estampasse;

Se se pudesse o espírito que chora
Ver através da máscara da face,
Quanta gente, talvez, que inveja agora
Nos causa, então piedade nos causasse!

Quanta gente que ri, talvez, consigo
Guarda um atroz, recôndito inimigo,
Como invisível chaga cancerosa!

Quanta gente que ri, talvez existe,
Cuja a ventura única consiste
Em parecer aos outros venturosa!

Anoitecer
Esbraseia o Ocidente na agonia
O sol... Aves em bandos destacados,
Por céus de ouro e púrpura raiados,
Fogem... Fecha-se a pálpebra do dia...

Delineiam-se além da serranja
Os vértices de chamas aureolados,
E em tudo, em torno, esbatem derramados
Uns tons suaves de melancolia.

Um mudo de vapores no ar flutua...
Como uma informe nódoa avulta e cresce
A sombra à proporção que a luz recua.

A natureza apática esmaece...
Pouco a pouco, entre as árvores, a lua
Surge trêmula, trêmula.... Anoitece. 

A cavalgada
A lua banha a solitária estrada...
Silêncio!... Mas além, confuso e brando,
O som longínquo vem-se aproximando
Do galopar de estranha cavalgada.
São fidalgos que voltam da caçada;
Vêm alegres, vêm rindo, vêm cantando.
E as trompas a soar vão agitando
O remanso da noite embalsamada...
E o bosque estala, move-se, estremece...
Da cavalgada o estrépito que aumenta
Perde-se após no centro da montanha...
E o silêncio outra vez soturno desce...
E límpida, sem mácula, alvacenta
A lua a estrada solitária banha...
(Sinfonias, 1883.)
Plena nudez
Raimundo Correia

Eu amo os gregos tipos de escultura,
Pagãs nuas no mármore entalhadas,
Não essas produções que a estufa escura
Das modas cria, tortas e enfezadas.

Quero um pleno esplendor, viço e frescura
Os corpos nus; as linhas onduladas 
Livres; da Carne exuberante e pura
Todas as saliências destacadas...

Não quero a Vênus opulenta e bela
De luxuriantes formas, entrevê-la
Da transparente túnica através;

Quero vê-la sem pejos, sem receios,
Os braços nus, o dorso nu, os seios,
Nua... toda nua, da cabeça aos pés!

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 4. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1883.

O Vinho de Hebe
Quando do Olimpo nos festins surgia
Hebe risonha, os deuses majestosos
Os copos estendiam-lhe, ruidosos,
E ela, passando, os copos lhes enchia...

A Mocidade, assim, na rubra orgia
Da vida, alegre e pródiga de gozos,
Passa por nós, e nós também, sequiosos,
Nossa taça estendemos-lhe, vazia...

E o vinho do prazer em nossa taça
Verte-nos ela, verte-nos e passa...
Passa, e não torna atrás o seu caminho.

Nós chamamo-la em vão; em nossos lábios,
Restam apenas tímidos ressábios,
Como recordações daquele vinho.


Desdéns

Realçam no marfim da ventarola
As tuas unhas de coral – felinas
Garras com que, a sorrir, tu me assassinas,
Bela e feroz... O sândalo se evola;

O ar cheiroso em redor se desenrola;
Pulsam os seios, arfam as narinas...
Sobre o espaldar de seda o torso inclinas
Numa indolência mórbida, espanhola...

Como eu sou infeliz! Como é sangrenta
Essa mão impiedosa que me arranca
A vida aos poucos, nesta morte lenta!

Essa mão de fidalga, fina e branca;
Essa mão, que me atrai e me afugenta,
Que eu afago, que eu beijo, e que me espanca!


Nenhum comentário:

Postar um comentário