domingo, 22 de agosto de 2010

Poema para Berenice


Quando vi no jornal sobre o novo livro de Adélia Prado," A Duração do Dia", fui tomada do desejo de sua voz e na primeira oportunidade busquei por ela.
Não há novidades, Adélia está lá plena e ela, muito mais do mesmo, sempre amado e apreciado.É como lambuzar-se com seu doce predileto. Um nunca enjoar-se.
Li-o, olhos bem abertos para não perder detalhes. Na memória a face amiga, a voz doce e firme de Adélia, dona das letras feitas fonemas em meus ouvidos, o cheiro acolhedor do café, sua mineirice que brota incontida.
Por sua religiosidade, seu louvor e fervor pensei que um poema de Adélia fosse bom presente para Berenice, que gostava destes arroubos, destes encontros íntimos com Deus.
Nunca saberei, mas a ela o ofereço, e também à Cândida,que faz anos por estes dias e à quem ainda posso perguntar se gosta de Adélia, se a aprecia, e a aceita como presente,uma lembrança amorosa de quem a admira.

TÃO BOM AQUI- Adélia Prado

Me escondo no porão
para melhor aproveitar o dia
e seu plantel de cigarras.
Entrei aqui pra rezar,
agradecer a Deus este conforto gigante.
Meu corpo velho descansa regalado,
tenho sono e posso dormir,
tendo comido e bebido sem pagar.
O dia lá fora é quente,
a água na bilha é fresca,
acredito que sugestiono elétrons.
Eu só quero saber do microcosmo,
o de tanta realidade que nem há.
Na partícula visível de poeira
em onda invisível dança a luz.
Ao cheiro de café minhas narinas vibram,
alguém vai me chamar.
Responderei amorosa,
refeita de sono bom.
Fora que alguém me ama,
eu nada sei de mim.

ps: os personagens desta estória
Berenice- minha sogra, que faleceu há alguns anos
Cândida- uma pessoa querida, com quem pouco estou
Adélia Prado- escritora, ser abençoado que nos abençoa com seu ser

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