quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Felicidade



Passávamos pelo centro da cidade, pelas ruas onde tive meus locais de trabalho, onde transitei diariamente indo e vindo, fazendo.
Calçadas que guardam o eco dos meus passos.
Foi quando ela me perguntou onde eu tinha sido mais feliz.
Meus olhos encheram d’agua.
A pergunta pairou no ar um instante, até evaporar-se sem resposta.
Fugi para outro assunto.
Tão ridículo descobrir assim, numa pergunta boba, algo triste sobre sua própria vida.
Eu não era feliz!!
Felicidade não existia então.
Tão pouco existia a infelicidade.
Não que a felicidade nunca tivesse existido.
Existiu certamente, mas esqueci-me de percebê-la, identificá-la, torná-la reconhecível.
Foi assim que ela passou pela minha vida e eu não a retive.
Nem lhe dei a chance de uma alô, tão ocupada que estava .
Na vida existia o fazer, o inquestionável trabalho profissional, em duas diversas casas, e o mundo pessoal, das satisfações, das obrigações.
Havia o bom trabalho realizado, o bem feito, a missão cumprida, o gosto por isso e o desgosto pelo falho, pelo erro, pelo não feito também presentes.
Gosto e desgosto , não era uma questão de felicidade, era uma questão do viver.
Vive-se, gostando ou não.
Dias bons, outros ruins, melhores e piores.
Vitórias, derrotas, desafios aceitos e vencidos . Pagos com sangue , suor e lágrimas os devidos tributos, dentro da normalidade.
Acordar, cuidar-se, cuidar dos outros, da casa, do trabalho e tratar de sobreviver até a noite. Dormir bem para acordar com energia para fazer tudo de novo, tentado melhorar em algo.
A vida sem felicidade.
Como eu sei?
Agora eu sei.
Agora eu sei como é a felicidade.
Prestei atenção e reconheci-a quando ela reapareceu.
Retive-a na palma da mão.
Enchi-a de carinho e mimos.
Não admitimos separação.
Os gostos e desgostos continuam acontecendo, mas a felicidade está aqui comigo, independente de onde estou.
Perto, segura, íntima, fácil e simples.
E mesmo sob ameaças, mergulhada até o pescoço na lama escura, eu sei da cor e do sol.
Sei da lua e da música. Sei do amor.
Sei dela, da felicidade.
Sei, para nunca mais me esquecer.

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