quarta-feira, 6 de abril de 2016

Ler




Leio muito , desde sempre.
Em minha casa não se era de muita contação de histórias nem de leituras antes de dormir, mas existiam livros.
Meu pai, curioso por tudo, tinha seu acervo de romances dos tempos de juventude, junto com livros escolares e técnicos.
Ele e minha mãe liam jornais e revistas.
Minha mãe colecionava receitas e artigos úteis para o lar.
Ambos continuam, cada vez mais, leitores.
Crianças, eu e meu irmão, íamos acompanhar o pai aos domingos, à banca de jornais e daí vinham as revistinhas Recreio, com os recortes e montagens e desenhos para colorir e as histórias em quadrinhos.
O primeiro livro que ganhei foi um, que tenho até hoje, com algum conto de fadas, ricamente ilustrado.
Este acendeu em mim o espírito sonhador, apresentando-me reis, rainhas, princesas, caçadores, fadas em ricas vestimentas detalhadas na bela ilustração.
Depois vieram os da escola, "O Menino do Dedo Verde", Maurice Druon, "Cazuza" Viriato Correia, até que ganhei dos meus pais, em um aniversário, o "Reinações de Narizinho" do Monteiro Lobato, trezentas robustas páginas com poucas ilustrações.
Li-o, e leio, gulosamente.
No ginásio, atual fundamental II, ainda não conhecia bibliotecas.
As escolas não as tinham e quando existiam eram mortas , fechadas, lugares para fazer o retrato oficial.
Nesta época, fomos morar próximo à uma prima que era professora e tinha , em sua casa, uma prateleira com a coleção completa dos livros da Abril, Clássicos para a Juventude.
Como eu li!!
Li tudo, mais de 40 livros!!
Júlio Verne, Stevenson, Louise May Alccot,  Charles Dyckens.
Li de me lambuzar!!!
A partir da sexta série , lia os livros que a escola mandava, os dessa minha prima, e emprestava alguns que uma colega, muito mais leitora do que eu, me recomendava.
Éramos as duas seres meio estranhos .  Íamos ao recreio com o livro debaixo do braço.
No colegial, atual ensino médio, descobri a biblioteca da escola, fechada, mas que podia ser consultada por quem requisitasse as chaves.
Pegava as chaves, abria a biblioteca empoeirada, pesquisava o trabalho pedido e corria os olhos sobre os títulos tão tentadores. Às vezes levava algo mais para casa, às vezes perdia a hora dentro da biblioteca, encantada com tudo o que via e ainda havia para ver.
O que a escola exigia eu lia, mas a exigência foi pouca e não havia um interesse em preparar o aluno para o vestibular.
Não fiz cursinho, então estudava por conta , consumindo os resumos dos livros.
Passei no vestibular, odontologia.
Em minha fase universitária li pouco.
Estudava muito para me manter acima da linha d'água, sem nenhum brilhantismo, apenas questão de sobrevivência.
Voltei a ler quando me formei.
Consultório aberto sem clientes.
Estudava algo sobre a profissão e frequentava os sebos do centro da cidade.
Comprava um livro, lia, trocava, e assim passaram por minhas mãos muitos tesouros que se perderam por aí.
Desde então não parei mais, mesmo variando o ritmo.
Leitura de todo jeito, mas por gosto, lazer.
O destino fez com que eu trabalhasse em escolas e daí eu tive todas as bibliotecas para mim.
Pegava as chaves, escolhia e lia tudo.
Tudo!!!
Como trabalhei em escolas de todos os níveis, desde pré escola até o ensino médio, li literatura infantil, que é um encanto, juvenil, para saber o que interessava e o que pensava o jovem, e a adulta, os clássicos, dos quais tinha ouvido falar, os recomendados por alguma bibliotecária de plantão , os recomendados por amigos, ou os que apareciam nos jornais.
Ah! As escolas também tinham os jornais!!!
Puríssimo deleite!!
De leitora virei escritora, e os livros viraram mais que leitura.
Fico maravilhada como pode-se manter um diálogo com o texto.
A ficção é cheia de respostas para as nossas eternas perguntas, e encontrar alguém que pensou no assunto que você pensa é reconfortante.
Muitas vezes não sabemos , ao certo , o que nos aflige, nem se é lícito, ou anormal, e quando lemos uma história com a qual nos identificamos, sentimo-nos autorizados, não nos sentimos sós.
É como se tivéssemos um amigo que nos entende à perfeição, e nos apóia e nos consola.
Assim é o livro.
Companhia desde sempre,  amigo inseparável.
Fascinante objeto.
Hoje leio o que quero, o que ganho, para dar uma opinião, o que preciso, para os meus estudos e o que me obrigo, através do compromisso com um grupo de leitura do qual participo.
Por todos estes meios tenho aprendido a ler além da própria história e isso torna a leitura uma atividade riquíssima.
Vivo muitas outras histórias, nas mais variadas peles, para experimentar cada vez mais o humano de todos em mim.
A poesia é uma música que toca para alegrar meu cérebro e fazê-lo criança deslumbrada frente à novidade e a possibilidade do brinquedo.
Gostaria que todos pudessem ter esta experiência prazerosa com a leitura, por isso estou envolvida com as questões do livro e da leitura.
Retorno às escolas para dar palestras, levo as palavras e leituras, a poesia em saraus, os livros em doação em praças e pontos de ônibus.
Sou fã do livro!
Carrego-o como bandeira!!



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