Eu ainda acredito em Papai Noel.
Talvez seja tão forte essa minha crença, só por me ter sido revelada quando eu era ainda um anjo. No meu tempo, o estado angelical era conservado até o momento em que a criança descobrisse a subtileza da mentira. Não era propriamente uma mentira. Antes, a colocação ingênua do mistério. O mistério sempre atrai, provoca reflexões, nos leva a um estágio de curiosidade poética.
Deduções infantis são quase sempre poéticas, quando os adultos não as contaminam; porque os adultos são realmente muito “bizarros”.
Quando eu nasci, o mundo ainda era povoado de sonhos. Os homens e os animais eram mais específicos:- homem era humano, o animal era bicho!
O respeito propiciava o amor, e o amor simbolizava paz. A palavra ética, nem era advertência; todos a praticavam sem saber seu nome; por que, eu nasci num tempo, bem antes de tantas comunicações e tantos estímulos, como temos agora.
Quando chegava em minha casa um telegrama, minha mãe se benzia antes de o abrir. Vivíamos em discreta ingenuidade. Era-nos fácil acreditar em mistérios .Um simples sinal da cruz, nos afastava de uma má notícia. Quanto respeito, meu Deus!
Notícias, boas ou más, já com um certo atraso, nos chegavam por jornais, que meu pai ia pegar no correio todas as tardes. O correio da minha cidade, só abria as portas, quarenta minutos depois que o trem chegasse. Era o tempo necessário para a distribuição da correspondência nas caixas.
Cidade pequena, poucos leitores. Vida pacata, poucos acontecimentos.
Lembro-me de uma parede cheia de portinhas de metal amarelo, numeradas e com chave. Eram as famosas "caixas postais" onde eu depositava as cartinhas ao Papai Noel. Era por lá que se iam as minhas ingênuas crenças. E era naquelas caixas do correio que também chegavam as respostas e advertências...e, como o velhinho bondoso sabia dar conselhos!
. Eu o obedecia com fidelidade pelo menos até chegar o Natal; assustada com o seu poder de conhecer meus pecadinhos.
Nunca me desmentiram; deixaram-me despertar desse sonho por dedução própria e isso nunca me causou nenhum mal, porque eu também os enganei a todos:
"Até hoje eu acredito em Papai Noel. Ele existem sim; da mesma forma que existe em mim uma criança que não morre
Jair Yanni
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