OBSESSÃO
O advogado José Paulo Cavalcanti levou 20 anos levantando fontes inéditas de Fernando Pessoa
Um dos aspectos da personalidade de Pessoa desvendados por Cavalcanti é sua vaidade. “Os cobradores viviam na porta da casa dele, mas ele continuava a se vestir no melhor alfaiate”, diz. “A vaidade era tanta que ele driblava com óculos de 3 graus a prescrição do oculista para 12 de miopia.” Para enxergar o mundo à maneira de Pessoa, Cavalcanti deu a um oculista a missão de torná-lo míope de 12 graus com várias lentes e colocou óculos de 3 graus por cima delas. “É um horror. Ele preferia a vida turva a ficar com o olho aumentado pelas lentes grossas.”
O livro também expõe detalhes sobre a visão de mundo (leia as sete regras de vida abaixo) e a sexualidade do poeta. Em seus textos, ele insinua a homossexualidade de Alberto Caeiro, Ricardo Reis, Bernardo Soares e cria um Álvaro de Campos homossexual assumido (“Olha Daisy, quando eu morrer tu hás de... contar àquele pobre rapazito/que me deu horas tão felizes”) . Antonio Botto, amigo de Pessoa que morreu atropelado no Rio nos anos 50, contou ao escritor Jorge de Sena que Pessoa “olhava de certa maneira para os rapazinhos”. Também revelou ter ficado assustado com o tamanho diminuto do pênis de Pessoa. Em suas supostas comunicações mediúnicas, Pessoa escrevia como Wardour, “homem envergonhado com clitóris em vez de pênis”. “É provável que nunca quisesse se expor, acreditando ser homossexual até os 30 anos”, diz Cavalcanti. O poeta tinha horror à flacidez de seu corpo: “Tenho um corpo tão feio, um focinho envergonhado que ofende a humanidade (referia-se ao nariz) . Meu corpo é um abismo entre eu e eu. O criador do espelho envenenou a alma humana”. Outra aflição eram as dívidas. Precisava de dinheiro, a ponto de não ir à entrega de um dos poucos concursos que ganhou. Explicou o motivo em poemas: “Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com que aparecesse”.
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