segunda-feira, 31 de julho de 2017

Combinando Palavras- Nélida Pignon











Chegando à Feira, bem cedinho, encontro em meu caminho os monitores.
Eles ficam pelas esquinas aguardando os ônibus com os alunos para encaminhá-los à entrada do teatro, onde mais monitores organizam a fila e a entrada, bem como a saída ordeira e cuidadosa.
Comunicam-se por rádio e a senha que move toda a engrenagem é " o primeiro ônibus chegou".
Eu os vejo, eles não me reconhecem, eu os reconheço pelo bom trabalho que fazem, muitos são voluntários como eu,  e citando-os aqui, relembrando seus rostos e sua disposição direciono,mais uma vez, a energia da gratidão.
O terceiro dia foi especial.
Era a vez da grande dama da literatura nacional, Nélida Pignon. Adjetivada como "Fantástica" pela maioria dos professores que trabalharam sua obra.
Secretária Geral da Academia Brasileira de Letras, ex-presidente da mesma.
Uma mulher que ama seu ofício e o defende, embandeirada, com paixão missionária.
No site da ABL está escrito: "Dedicada e disciplinada entregou sua vida à literatura. É por ela que acorda todas as manhãs e hesita em dormir todas as noites, alongando seus dias pela palavra."
Nélida é como uma ilustração presente em um antigo livro de contos infantís onde aparece uma princesa que ao falar não produz som , mas pérolas,pedras preciosas e flores, que saem por sua boca.
Nélida fala como escreve.
Uma escrita de palavras nobres, uma ourivesaria de palavras.
Seu conto I Love my Husband, lido e trabalhado pelos alunos, rendeu cena teatral, debate sobre feminismo e empoderamento, música de violino, e uma declaração de amor coletiva: I love Nélida!!!
Aproveitei o camarim para um encontro de Secretárias, ela pela ABL , eu pela Alarp.
Um encanto!
Uma honra!!
Viva a Feira!!

Nélida nasceu no Rio de janeiro, em 03 de maio de 37, filha de espanhóis, formada em jornalismo, acadêmica desde 89, presidente ABL no ano de seu centenário, 97, atual secretária geral,  premiadíssima, autora de grande produção em texto bordado de preciosidades. 

domingo, 30 de julho de 2017

Combinando Palavras- Lya Luft








Segundo dia do "Combinando", chegando cedinho antecipando o acontecimento.
Carro estacionado em novo lugar, mais tranquilo.
A Feira acordando, a praça ainda adormecida.
Os bons dias nas bocas já conhecidas, cúmplices no tão cedo das horas.
Eram dias frios e a chuva assolava o sul do país.
Lya não vinha.
Mais um desafio, um imprevisto.
Os alunos estariam ali, de qualquer forma, mil deles.
A solução encontrada foi fazer uma video conferência, coisa que parece corriqueira, mas que demanda conhecimento,  tecnologia e sorte, muita sorte.
Tudo preparado, alunos no teatro, um ajudante do lado de Lya, lá em Porto Alegre,  o laptop no canto do palco sem poder sair dali sob pena de desconectarem-se fios e rede e Lya sumir na bruma cibernética.
Alunos, que poderiam estar decepcionados, mantiveram seu ânimo elevado.
E tudo funcionou com uma perfeição mágica.
Lya estava, mesmo não estando.
Foi saudada pelos alunos que subiam ao palco e conversavam com ela bem pertinho, no computador, ganhou abraços, flores, que chegaram lá de forma real, junto com toda a variada produção.
A conversa fluiu simpática e satisfatória e na hora reservada para uma homenagem especial,  um dupla de meninas subiu ao palco para apresentar sua música.
Versão autoral, feita especialmente para a escritora,  preparo profissional, acompanhadas com entusiasmo pela plateia.
Foi um show!!!
Foi emoção total!!
É! É preciso acolher o imprevisto. Muitas vezes ele pode carregar consigo algo muito melhor do que o que foi planejado.
Viva!!!
Lya nasceu no Rio Grande do Sul, Santa Cruz, em 15 de setembro, descendente de alemães, estudou letras germânicas, é tradutora escritora premiada e de grande produção.

Sua escrita nos sugere a possibilidade de romper barreiras auto-impostas, nos expõe à dor para nos fazer vivos, propõe questões sobre o humano em um texto de fácil entendimento, permeado pelo encanto e compaixão. Ler Lya é ganho certo.

sexta-feira, 28 de julho de 2017

Combinando Palavras- Ignácio de Loyolla Brandão

o presente da Fundação

Ignácio no chão , vendo o vídeo

Ignácio, eu e Heloísa entregando as produções dos alunos


Me preparei, eu me preparo, para receber os escritores do "Combinando" lendo suas obras, acessando o material fornecido aos alunos e professores, fazendo um roteiro, bem aberto, contemplando os imprevistos e improvisos ( e esquecendo-o em casa no primeiro dia), cuidando da voz, do sono e das energias para estar fisicamente atenta e disposta para a boa hora, além de levar comigo lembrancinhas, livros, cartões, coisas que aquecem corações.
Tudo pronto (?) para Ignácio de Loyolla Brandão, um habituè da Feira, colunista do jornal local, natural da vizinha Araraquara, quase um cidadão ribeirão-pretano.
Primoroso escritor de ágil escrita e bons assuntos.
Camarim delícia, aos cuidados da jovem Amanda.
Uma bolinha de gude, em saquinho de seda, o mimo,  referência à história de Ignácio sobre os "Cavalos Loucos".
Chegam Ignácio e a admirável Adriana Silva, presidente da Fundação e Edgar de Castro, vice-presidente, que fizeram questão de acompanhar pessoalmente todos os convidados.
Cumprimentos, breves explicações do que aconteceria .
Teríamos a inacreditável marca de mil alunos nas dependências do Teatro.
Como seria?
Daria certo?
Já no camarim começaram as homenagens.
Os trabalhos dos alunos compilados em um pen drive, acondicionado em bela caixa temática, foi o belo presente ofertado pela Fundação, resultado concreto do trabalho.
Trabalhos dos alunos, textos, caixas, muitas bolinhas de gude...
Fotos!
Hora do show!!
Subimos ao palco, acertamos detalhes e entramos em cena, depois de breve apresentação do locutor Coelho.
Juro que me preocupei com a reação do convidado.
Seriam momentos de grande emoção.
Ignácio foi ovacionado pelos alunos.
Foi como uma onda ruidosa e calorosa a nos envolver.
Ele corou, acelerou a respiração mas ficou firme.
Sobrevivido, Ignácio, recebeu os alunos com sua habitual simpatia.
Os alunos cumprimentaram o convidado, beijos e abraços, lembranças por eles produzidas.
Um vídeo, Ignácio sentado no chão para ver melhor.
Teatro.
Tudo acontecendo e fluindo na cumplicidade dos que se unem para fazer acontecer.
Abraços em árvores, conselhos de avô,  Branca de Neve sua namorada, o dicionário como leitura, as garotas, a infância, as cadernetas de Dona Rita, a reverência às professoras, a missão, o sucesso, o amor pelo que faz.
O encanto!
Ignácio gostou, nós gostamos, e ele promete voltar.
Reservou lugar para 2018.
Ao chegarmos de volta ao camarim, ele ligou imediatamente para a esposa e disse que tinha vivido uma das maiores emoções de sua vida.
Coisas assim validam qualquer trabalho.
Obrigada, Heloísa, Fundação.
Obrigada, Ignácio.
Vencido o desafio do primeiro dia, postos à prova todos os esquemas e planejamentos, cientes de que nosso caminho seria de surpresas e improvisos a serem acolhidos, satisfeitos, fechamos a porta do camarim, convidado entregue à Adriana para uma volta na Feira.
Era só o começo.
Só o começo!!

PS: trouxe a bolinha de gude de volta. Que valor teria uma bolinha solitária diante de caixas e caixas dos encantadores olhos de uns determinados cavalos?

PS2:- Ignácio nasceu em Araraquara, 31 de julho de 1936, mas pensa , seriamente, em pedir a cidadania ribeirão pretana, de tanto que anda frequentando a cidade. Seu brinquedo de menino incluía a leitura do dicionário. Dono de um texto ágil e cativante, com presença de humor, e grande produção, conquistou os alunos por seus temas sobre o humano e sua ternura no recente “ os olhos cegos dos cavalos loucos” . É o homem dos caderninhos, anota tudo, tudo pode ser assunto. Do livro Zero, trago uma frase do seu personagem José, para conhecermos sua palavra “ Eu gosto de pensar, coisas sem sentido. Porque as coisas com sentido não fazem sentido.”

quinta-feira, 27 de julho de 2017

Combinando Palavras - a entrega


anotações da entrega


Adriana e eu

a turma toda

Como iria apresentar o Combinando, fui convidada a participar de algumas etapas do projeto.
Estive na Delegacia Regional de Ensino para o lançamento do projeto e no mesmo local para a entrega dos trabalhos.
Entre estes dois momentos, os professores encontraram-se com a organização para estudo e planejamento.
Quando fui convidada para o segundo momento, estranhei a duração, teríamos três horas.
Três horas?
Não imaginava que participaria da entrega.
Não sou professora, mas admiro sinceramente o trabalho dos professores.
Minha vivência vem do trabalho em escolas por vinte e cinco anos.
Eu na saúde, observando de fora, mas muito próximo, a educação.
Tentando trabalhar junto. Tentando conhecer para trabalhar junto.
A entrega foi um momento especial.
Vi professores entusiasmados com os resultados, mesmo os mais modestos.
Todos relataram dificuldades, mas todos relataram ganhos.
Ninguém perdeu , nem desistiu.
Foram todos vencedores.
Todos!!!
E se o trabalho parasse ali, já estaria muito bem feito. Mas foi além e reverberou magias.
Passei três horas no topo da emoção, surpreendida pelos olhos brilhantes , pelo entusiasmo contagiante.
No final, bem no finalzinho mesmo, foi a hora de combinar a apresentação.
Eu, ali ao lado da admirável, e de quem sou fã, Adriana Silva, sob as bençãos e atenção da inspiradora parceira Heloísa Alves, acertando detalhes do pouco previsível evento.
Há momentos, e espero que passem por isso, em que nos damos conta de que fomos preparados a vida toda para eles.
Este foi um deles.
Gratidão plena à Heloísa, Adriana, Laura, Vanessa, equipe organizadora.
Gratidão total os mestres.
Que Deus os abençoe.

quarta-feira, 26 de julho de 2017

Feira do Livro 2017, Combinando Palavras

Sete  e pouco da matina, nos camarins, Heloísa Alves, Laura Abad, da equipe organizadora e eu, Eliane Ratier



A Feira! Ah, a Feira!
Desafios e surpresas, emoções e encontros inigualáveis acontecem nos dias de Feira.
Neste ano não foi diferente, mas houve algo muito especial.
Como nos outros anos apresentei, no palco do Teatro PedroII,  o Projeto Combinando Palavras da escola Otoniel Mota. Um verdadeiro presente para mim.
 O projeto nasceu por iniciativa de professores da escola, entre eles Heloísa Alves, coração, alma e braços do projeto,  que propuseram aos seus alunos,  um trabalho de escrita baseado na vida e obra de um autor por eles escolhido.
O resultado vinha em forma de prosa, poesia e vídeos ampliando as possibilidades de manifestação e exercício dos alunos.
Depois virava livro que era lançado no palco do teatro, tendo os próprios alunos como palco e platéia, num movimento inspirador.
Neste ano o projeto transbordou, excedeu os limites dos muros da escola e foi oferecido, pelas mãos da Fundação do Livro e Leitura de Ribeirão Preto, a todas as escolas estaduais da região.
Foram mais de quarenta escolas, milhares de alunos e meia centena de professores conhecendo a vida e obra de cinco ícones da literatura nacional, e produzindo uma infinidade de trabalhos baseados neste conhecer.
Costumo dizer que este é um projeto de "Sins" e quando um "sim" se faz ouvir há sempre uma grande mágica de proporções indefiníveis.
O "sim" é o gatilho para uma série de ações que tem uma direção e infinitos caminhos.
Para o professor é muito mais fácil seguir a programação oficial da escola. Aceitar um projeto significa mais trabalho, trabalho extra, não contabilizado, nem oficialmente avaliado.
O professor que diz "sim" expressa sua coragem e seu amor ao ofício e aos alunos.
Foram cinquenta professores que aceitaram o desafio.
Foram cinco autores escolhidos, de máxima expressão no meio literário, alguns da Academia Brasileira de Letras,  todos longevos, na casa dos 80 :  Ignácio de Loyola Brandão, Nélida Pignon, Lya Luft, Zuenir Ventura e Luiz Fernando Veríssimo.
Foram cinco mil adolescentes que se manifestaram de diversas formas com grande criatividade e dedicação e para coroar o trabalho tiveram um encontro marcado, no teatro, com o autor trabalhado.
Incrédulos professores e alunos, lotaram o teatro, em cinco manhãs,  para uma grande homenagem aos autores.
Incrédulos ficamos nós, eu , apresentadora, e a própria organização do evento, com a capacidade de ordem, respeito, e manifestação consciente e carinhosa dos alunos adolescentes.
Alguns alunos subiram ao palco representando as escola de posse de questões que moveram a roda da curiosidade  e dádivas sinceras criando momentos de raríssima e única felicidade.
Nas outras salas, durante a Feira, muitas questões de educação eram debatidas com o  desânimo e a descrença costumeira com que são encaradas.
Nós, que testemunhamos os belos encontros do "Combinando" éramos os portadores da esperança que vimos concretizada sob nossos olhos.
O mundo tem jeito sim, não está perdido, é possível fazer algo desde que haja desejo e motivo.
O "Combinando" foi um sucesso que partilharei com vocês por aqui, recordando, enlevada, com o pensamento no futuro, no Combinando 2018.
Acompanhem!!
PS: Em nossa defesa, na foto, quero dizer que as sessões começavam às 8h, chegávamos às 7, convidados e alunos perto de 7h30, muito cedo para todos, ainda mais para o pessoal que trabalhou na organização que mudou de endereço por 10 dias, morando na Feira.

segunda-feira, 24 de julho de 2017

Livros- Tudo tem uma primeira vez- Mariana Kalil



Difícil resistir a um título assim, tão pessoal. Afinal, todos nós temos muitas primeiras vezes e é por aí nossa identificação imediata com o texto de Mariana.
Leve, bem-humorado e solidário, o livro nos dá a certeza que toda primeira vez é um teste de sobrevivência ao qual somos submetidos com maiores chances de erro, do que de acerto, mas que uma vez vencido o desafio, deixa-nos,no mínimo, com boas histórias para contar.
Através das histórias de Mariana relembramos as nossas próprias, agora mais leves e inspirados e aproveitamos para olhar o mundo pelos olhos da autora, perceber suas crenças.
Boa e prazerosa leitura.

Tudo tem uma primeira vez- Mariana Kalil, 2015, editora Dublinense
Comprei por impulso na livraria, pensando nas jovens filhas e suas estreias.

Trecho do livro aqui:

https://www.youtube.com/watch?v=tAmwbmSjDUA

quarta-feira, 12 de julho de 2017

Filme- Billy Elliot



Filme que adorei desde a primeira vez que vi,  e que quase assisti, deu preguiça de sair do hotel,  como musical, em Londres.
Revi parte, dia destes na televisão , e cheguei a conclusão que será sempre novo para mim.
Nossa percepção muda e vemos o que não víamos e principalmente, entendemos onde nos toca.
Amo dança, minha linguagem artística primeira, e tudo que se refere à ela.
O filme é tocante e mostra um adolescente que enfrenta a sociedade em que vive, em tempos bem duros de se viver, para fazer o que é chamado pela ordem inaudita, e muitas vezes racionalmente questionável, do coração.
O jovem dançando "cura-se" e "abençoa" o entorno.
Vale para todos, jovens e velhos,  amantes ou não da dança, porque fala do tema universal das escolhas.
Amor para sempre por Billy Elliot

Billy Elliot- 2000- Irlanda-  Direção: Stephen Daldry  Roteiro: Lee Hall

Aqui uma cena de desafio, como os que enfrentamos todos os dias.

https://www.youtube.com/watch?v=69RNNex-sig

domingo, 9 de julho de 2017

Livro- Olhos de Mar cheios de água- Débora Corn



Débora é uma grata surpresa.
Pessoana, que é como designo os que são fãs de Fernando Pessoa, o poeta português, faz, em  seu livro,  um passeio por Portugal tendo por companhia a presença do próprio poeta.
Jovem e apaixonada, Débora nos presenteia com sua visão particular, seu sentimento do momento na eternidade das paisagens perpétuas.
Um deleite!

 "Um pastel de Belém portuense"

Os olhos azuis sacudiam mar
Mais um bocadinho de canela?
Como não admirar a paisagem,a  simplicidade e o gosto?

Azulejos e ela tinha simpatia
A portuguesa não era dona da confeitaria
Ventura no espírito era o a que possuía.

Olhos de Mar cheios de água- editora inverso- direto com a autora, ou a editora, ou, se tiver sorte, ao vivo , à cores e simpatia, perto de você.



terça-feira, 4 de julho de 2017

Um Chão sob os pés




Um Chão sob os pés

Aqui estou, depois de muito tempo, caminho e vida, tentando por um chão sob os pés.
Pés-patas-pernas  de um inseto kafkaniano que se agitam no ar na tentativa de recompor a postura.
Acontece, somos pegos pelos turbilhões e , para evitar danos maiores, soltamos o corpo e tratamos de nos manter respirando e , de preferência, sorrindo, mesmo que de pernas para o ar.
De volta ao chão, tentamos dar o segmento ao que podemos e da maneira que conseguimos.
Tudo muito bom, para lá de bom, excessivamente bom.
Boas coisas que vou contando aos pouquinhos , para contar tudo, e contando vou revivendo e recordando com o sorriso nos lábios e a mente lá no outro tempo e espaço, no desejo satisfeito, no sonho nem sonhado e já realizado, na felicidade, sempre ela, dos encontros.

Torçam por mim nesta empreitada.