Assim pesquiso sobre eles e aprendo. Sempre!
Drummond não é novidade, mas este livro sim.
Livro de crônicas escritas para o Jornal do Brasil na década de 70.
O texto que dá o nome ao livro chamou-me a atenção pelo estilo,assunto e leveza.
Ele pode ser lido aqui http://www.releituras.com/drummond_menu.asp
Ele pode ser lido aqui http://www.releituras.com/drummond_menu.asp
Drummond foi magnífico!!
Estas crônicas trazem o sabor de sua época, a linguagem, o cheiro do Rio, sua luz e calor, o humor.
Vontade de lê-las em voz alta, saborear as palavras.
Uma delícia!!!
Não são textos muito populares, então vou tratar de deixar um por aqui.
Este é uma crônica em forma de poesia.
" Falta um disco
Amor,
estou triste porque
sou o único brasileiro vivo
que nunca viu um disco voador.
Na minha rua todos viram
e falaram com seus tripulantes
na lingua misturada de carioca
e de sinais verdes luminescentes
que qualquer um entende, pois não?
Entraram a bordo (convidados)
voaram por aí
por alí, por além
sem necessidade de passaporte
e certidão negativa de IR,
sem dólares, amor, sem dólares.
Voltaram cheios de notícias
e de superioridade.
Olham-me com desprezo benévolo.
Sou o pária,
aquele que vê apenas caminhão
cartaz de cinema , buraco na rua
e outras evidências pedestres.
Um amigo que eu tenho
todas as semanas vai ver o seu disco
em Itaipu.
Este não diz nada para mim,
de boca, mas o jeito,
os olhos! contam de prodígios
tornados simples de tão semanais
apenas secretos para quem não é
capaz de ouvir e entender um disco.
Por que a mim, somente a mim
recusa-se o OVNI?
Talvez para que a sigla
de todo não se perca, pois enfim
nada existe de mais identificado
do que um disco voador hoje presente
em São Paul, Bahia
Barra da Tijuca e Barra Mansa.
( Os pastores desta aldeia
já me fazem zombaria
pois procuro, em vão procuro
noite e dia
o zumbido , a forma , a cor.)
Bem sei que em toda parte
eles circulam: nas praias
no infinito céu hoje finito
até no sítio de outro amigo em Teresópolis.
Bem sei e sofro
com a falta de confiança neste poeta
que muita coisa viu extraterrena
em sonhos e acordado
viu sereias, dragões
o Principe das Trevas
a aurora boreal encarnada em mulher
os sete arcanjos de Congonhas da Luz
e doces almas do outro mundo em procissão.
Mas o disco, o disco?
Ele me foge e ri
de minha busca.
Um passou bem perto ( contam)
quase a me roçar. Não viu? Não vi.
Dele desceu (parece)
um sujeitinho furta-cor gentil
puxou-me pelo braço: Vamos ( ou: plnx),
talvez...?;
Isso me garantem meus vizinhos
e eu, chamado não chamado
insensível e cego sem ouvidos
deixei passar a minha vez.
Amor, estou tristinho, estou tristonho
por ser o só
que nunca viu um disco voador
hoje comum na Rua do Ouvidor.
O Poder Ultrajovem- Carlos Drummond de Andrade - Editora Record- o meu comprei na Estante Virtual.
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