quarta-feira, 28 de dezembro de 2016

Dezembro de Olavo Bilac




Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, o “ Príncipe dos poetas” é o nosso poeta do mês.
Nasceu em 16 de dezembro  de 1865 e faleceu em 28 de dezembro de 1918 na cidade do Rio de Janeiro.
Poeta da escola parnasiana, muito conhecido e lido por estudantes , referendado em livros escolares.
Primou pela excelência da linguagem, ritmo, e  métrica rígida  nos poemas.
Seu nome é um verso Alexandrino, 12 sílabas acentuadas a sexta e a décima segunda.
Dedicou especial atenção aos poemas para crianças e os de caráter cívico.
É autor da letra do Hino à Bandeira.
Nacionalista, participante ativo da política nacional, Bilac, embora tenha iniciado dois cursos superiores, medicina e direito, não se formou em nenhum.
Mesmo assim recebeu o diploma de professor honorário da Universidade de São Paulo, pouco antes de falecer.
Foi membro fundador da Academia Brasileira de Letras, criando a cadeira 15 de Gonçalves Dias.
Hino à Bandeira

Salve lindo pendão da esperança!
Salve símbolo augusto da paz.
Tua nobre presença à lembrança.
A grandeza da Pátria nos traz.
Refrão
Recebe o afeto que se encerra.
Em nosso peito juvenil,
Querido símbolo da terra,
Da amada terra do Brasil!
2
Em teu seio formoso retratas.
Este céu de puríssimo azul,
A verdura sem par destas matas,
E o esplendor do Cruzeiro do Sul.
(Refrão)
3
Contemplando o teu vulto sagrado,
Compreendemos o nosso dever,
E o Brasil por seus filhos amado,
Poderoso e feliz há de ser!
(Refrão)
4
Sobre a imensa nação brasileira,
Nos momentos de festa ou de dor,
Paira sempre sagrada bandeira,
Pavilhão da justiça e do amor!
(Refrão)

 Ouvindo estrelas
Bom poema para decorar e dizer para a namorada ou na festa de final de ano do trabalho.

OUVIR ESTRELAS- Olavo Bilac
"Ora (direis) ouvir estrelas! Certo
Perdeste o senso!" E eu vos direi, no entanto,
Que, para ouvi-las, muita vez desperto
E abro as janelas, pálido de espanto...

E conversamos toda a noite, enquanto
A via-láctea, como um pálio aberto,
Cintila. E, ao vir do sol, saudoso e em pranto,
Inda as procuro pelo céu deserto.

Direis agora: "Tresloucado amigo!
Que conversas com elas? Que sentido
Tem o que dizem, quando estão contigo?"

E eu vos direi: "Amai para entendê-las!
Pois só quem ama pode ter ouvido
Capaz de ouvir e de entender estrelas."

(Poesias, Via-Láctea, 1888.)



Poema  de Natal
Natal 

Jesus nasceu! Na abóbada infinita 
Soam cânticos vivos de alegria; 
E toda a vida universal palpita 
Dentro daquela pobre estrebaria... 

Não houve sedas, nem cetins, nem rendas, 
No berço humilde onde nasceu Jesus... 
Mas os pobres trouxeram oferendas 
Para quem tinha de morrer na Cruz. 

Sobre a palha, risonho e iluminado 
Pelo luar dos olhos de Maria, 
Vede o Menino Jesus, que está cercado 
Dos animais de pobre estrebaria. 

Não nasceu entre pompas reluzentes: 
Na humildade e na paz desse luar, 
Assim que abriu os olhos inocentes, 
Foi para os pobres seu primeiro olhar. 

No entanto, os reis da terra, pecadores, 
Seguindo a estrela que ao presepe os guia, 
Vêm cobrir de perfumes e de flores 
O chão daquela pobre estrebaria. 

Sobem hinos de amor ao céu profundo; 
Homens, Jesus nasceu! Natal! Natal! 
Sobre esta palha está quem salva o mundo 
Quem ama os fracos, quem perdoa o Mal! 

Natal! Natal! Em toda a Natureza 
Há sorrisos e cantos, neste dia... 
Salve, Deus da Humanidade e da Pobreza, 
Nascido numa pobre estrebaria.
                                                               Olavo Bilac

Língua portuguesa
Olavo Bilac

Última flor do Lácio, inculta e bela,
És, a um tempo, esplendor e sepultura:
Ouro nativo, que na ganga impura
A bruta mina entre os cascalhos vela...

Amo-te assim, desconhecida e obscura.
Tuba de alto clangor, lira singela,
Que tens o trom e o silvo da procela,
E o arrolo da saudade e da ternura!

Amo o teu viço agreste e o teu aroma
De virgens selvas e de oceano largo!
Amo-te, ó rude e doloroso idioma,

em que da voz materna ouvi: "meu filho!",
E em que Camões chorou, no exílio amargo,
O gênio sem ventura e o amor sem brilho!


A Boneca
Deixando a bola e a peteca,
Com que inda há pouco brincavam,
Por causa de uma boneca,
Duas meninas brigavam.
Dizia a primeira : “É minha!”
— “É minha!” a outra gritava;
E  nenhuma se continha,
Nem a boneca largava.
Quem mais sofria (coitada!)
Era a boneca. Já tinha
Toda a roupa estraçalhada,
E amarrotada a carinha.
Tanto puxavam por ela,
Que a pobre rasgou-se ao meio,
Perdendo a estopa amarela
Que lhe formava o recheio.
E, ao fim de tanta fadiga,
Voltando a bola e a peteca,
Ambas, por causa da briga,
Ficaram sem a boneca ...




A Avó

A avó, que tem oitenta anos,
Está tão fraca e velhinha!...
Teve tantos desenganos !
Ficou branquinha, branquinha,
Com os desgostos humanos.
Hoje, na sua cadeira,
Repousa, pálida e fria,
Depois de tanta canseira:
E cochila todo o dia,
E cochila a noite inteira.
Às vezes, porém, o bando
Dos netos invade a sala ...
Entram rindo e papagueiando :
Este briga, aquele fala,
Aquele dança, pulando ...
A velha acorda sorrindo.
E a alegria a transfigura;
Seu rosto fica mais lindo,
Vendo tanta travessura,
E tanto barulho ouvindo.
Chama os netos adorados,
Beija-os, e, tremulamente,
Passa os dedos engelhados, 
Lentamente, lentamente,
Por seus cabelos doirados.
Fica mais moça, e palpita,
E recupera a memória,
Quando um dos netinhos grita :
"Ó vovó ! conte uma história!
Conte uma história bonita!"
Então, com frases pausadas,
Conta histórias de quimeras,
Em que há palácios de fadas,
E feiticeiras, e feras,
E princesas encantadas ...
E os netinhos estremecem,
Os contos acompanhando,
E as travessuras esquecem,
- Até que, a fronte inclinando
Sobre o seu colo, adormecem ...

Texto publicado originalmente no blog da Revide.



domingo, 25 de dezembro de 2016

Livros- Os Bichos- Miguel Torga



Livro lido pela (bendita) indicação do grupo de leitura.
Miguel Torga, pseudônimo de Adolfo Correia da Rocha, médico,  autor português ,nasceu em 12 de agosto de 1907 e faleceu em 1995.
Olhando sua biografia vejo que o menino Adolfo, de origem humilde teve experiências em tenra idade, vindo até morar no Brasil, onde trabalhou na lavoura e foi educado pela mão de um tio.
O tio reconhecendo-lhe o talento para o estudo devolveu-o a Portugal para cursar a universidade.
Começou a publicar ainda estudante e escreveu mais de 50 livros, sendo indicado para o Nobel e ganhador do prêmio Camões de 1989.
Sua grande produção literária foi também grandemente diversificada, prosa, poesia, dramaturgia, romance, contos.
Seu texto é poesia pura, seja na melodia , seja nas imagens e ideias.
Como é bonito ver o domínio que parece espontâneo.
Penso que por ser escrito no português original, há ainda mais poesia pela sutilezas da língua.
Todo o livro é de grande beleza e creio que sua leitura repetida nos mostre cada vez mais encantos.
Destaco o Cega-Rega, sobre a cigarra e Jesus, delicado e terno, onde Jesus menino se depara com o nascimento de um passarinho.

Do conto" Bambo", nome do protagonista que é um sapo.

" Viessem ver os domínios do batráquio reluzente de luar e alheado como um poeta...Quem na freguesia inteira passeava assim cheio de calma e compenetração no silêncio carregado de estrelas?
...
E a verdade é que nunca encontrara tanto sentido e beleza às coisas que o rodeavam, como naquelas horas silenciosas Nelas até as próprias sombras faziam confidências ao entendimento..."

Onde achar o livro: o meu comprei na estante virtual

quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

Convivendo 3



Tá, eu sei. De novo!!
É que estou tentando entender , assimilar, por em prática.
Daí passo e repasso com vocês as idéias e as escrevo para não me esquecer e assim deixar uma trilha pronta, um caminho com migalhas de pão, que guie a saída da floresta, do labirinto.
Durante um dos cursos de teatro que fiz, executamos um exercício muito interessante.
Sabemos que , quanto mais entrosados os atores , melhor o resultado no palco.
Por isso o exercício visava aprender a perceber e adequar os ritmos individuais.
Era assim: dois a dois, ombro a ombro, os pares em fila, um atrás do outro. O primeiro par começava a pular, saltitar, e depois de determinado tempo, o segundo, e assim sucessivamente. Passado o ritmo para o par subsequente os primeiros deixavam de pular. Ao final da fila o exercício voltava, do último ao primeiro par, dificultando a percepção que acontecia sem o auxílio da visão.
Uma riqueza de atividade!!
Primeiro é necessário que você perceba o ritmo de seu par e que , como par, deseje que se iguale.
Isso demanda um ajuste. Quem tem mais facilidade, ou disponibilidade, segue o ritmo alheio, ou, de comum e mudo acordo, abandona-se o próprio ritmo para atingir outro que seja confortável a ambos.
Isso de maneira instantânea.
Depois é necessário perceber o ritmo do par anterior para dar continuidade ao exercício.
Fascinante!!
Há identificações imediatas, pares que se acertam e acertam de primeira, mas o mais comum é que a prática aperfeiçoe o ato.
Se mantivermos o parceiro ao longo de muitos exercícios há boa chance de sucesso.
A  convivência é mais ou menos assim!!!
Se há o desejo de acertar é preciso insistir , errar, acertar, praticar para aperfeiçoar.
Uma tarefa de vida, já que , como humanos, estamos sempre mudando.
Boa sorte para todos!!

domingo, 18 de dezembro de 2016

Livros- O Livro de Rovana- Quando eu era surda-muda- Joaquim Maria Botelho- editora Passavento



Joaquim Maria Botelho, jornalista renomado, foi presidente da UBE, União Brasileira de Escritores, na época em que foi fundado o Núcleo de Ribeirão Preto do qual sou coordenadora.
Foi assim que o conheci, Presidente.
Depois conheci sua palavra em oratória, discursos, palestras, por fim sua escrita, em antologias, romance.
"O Livro de Rovana" é uma biografia baseada nos cadernos de sua irmã deficiente visual e auditiva portadora da Síndrome de Alport.
Um livro rico!!!
Joaquim usa os textos de sua irmã para contar-nos a história de sua família em seu tempo.
Uma história que merece ser contada por muitos motivos, por ser retrato de uma época, por relatar histórias de pessoas valorosas que enfrentaram dificuldades e as venceram, brilharam.
A história de Rovana é especialmente útil para quem lida com deficiências, sejam quais forem.
É uma história de possibilidades.
É uma história inspiradora!

O trecho a seguir fica quase no final do livro e relata poeticamete um momento de uma viagem empreendida pelo autor na adolescência.

" Cada um de nós tinha a sua estrela particular, simbolizando a namorada, nas noites em que os astros cintilantes eram a única luz disponível. O mundo, ancho, cheio de perigos e de encantos, se apresentava para nós e o interpretávamos com a leveza e o descompromisso de quem tem dezessete anos, ama e é feliz.
Cantávamos. E sentíamos saudades."

Onde achar:Livraria da Folha e Livraria Cultura, pela internet

quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Convivendo 2




Outro dia, falei aqui dos desacertos da convivência, dos esbarrões, das ruidosas comunicações.
Hoje, falarei de outro aspecto da mesma convivência, a cumplicidade.
Quando nos dispomos a estar junto com alguém, há um motivo.
Seja na convivência familiar, afetiva ou de trabalho, há um objetivo e, por honra e glória deste, um esforço comum.
Daí surge naturalmente a parceria, a cumplicidade.
Na família sabemos a quantos bifes temos direito em um refeição. Colocamos o tapete em cima da mancha do piso quando a visita vem. Usamos as xícaras desbeiçadas  no dia a dia para poupar a boa louça dos acidentes. Mudamos de assunto quando percebemos o terreno perigoso. Auxiliamos sem que nos peçam e sem necessidade de agradecer. Arrumamos a sala que não é nossa, mas que é da família. Somos guardiões da intimidade, protegemos, informamos, nos apoiamos , damos as mãos , choramos e rimos, sem explicação, sem necessidade de dar ao ambiente social nenhuma satisfação.
E assim, em família , somos um.
No campo afetivo, este tão delicado sítio de amores e amigos, a mesma regra é seguida e é quase questão ética preservar , às vezes eternamente,  o sigilo das confissões, os pequenos vícios particulares. Há ainda uma norma de conduta que aponta para a fidelidade , termo com definição subjetiva, e a exclusividade , esta objetiva, não colocando todos no mesmo balaio , tratando cada qual com a distinção merecida, mas respeitando as normas não declaradas dos grupos.
Difícil equilíbrio, quase uma arte que tratamos de exercer para preservar as delícias dos afetos e das amizades.
No trabalho não é diferente. Tomamos o café ruim da repartição e trazemos um bom de casa para servir ao inspetor quando ele vem. Limpamos a papelada das mesas, entulhamos gavetas quando o dia é de festa e as portas estarão abertas. Colocamos um sorriso no rosto e ombreamos aquele colega trabalhoso quando se faz necessário representar a classe. Fingimos satisfação mesmo quando não há papel higiênico nos banheiros. Improvisamos caixinhas e avisos para melhorar fisicamente o cotidiano. Confortamo-nos na partilha das misérias e das inadequações. Colocamos o vestido de festa e posamos para a foto anual da empresa apesar dos ventiladores quebrados, das grosserias dos chefes e das puxadas de tapete dos colegas.
Enfim!!! Somos cúmplices !!!
E ai de quem se puser a criticar o grupo!!!
Juramos todos que estamos bem e somos ótimos!!!
Na intimidade lavamos , quaramos e remendamos nossa roupa usada e suja.
Ainda bem que é assim!

domingo, 11 de dezembro de 2016

Livro- Tão veloz como o desejo- Laura Esquivel



Livro lido por indicação do grupo de leitura.
Agora , depois de lido, confesso que não entendi o título, Tão veloz como o desejo, editado em 2001, mas isso é só um detalhe.
Ao iniciar o romance achei que estava com uma daquelas estórias melosas.
Fui agradavelmente surpreendida pela boa escrita da autora mexicana Laura Esquivel, autora do bem sucedido "Como água para chocolate".
Trama com boa tensão narrativa, instigante, linguagem bem cuidada, pitadas de história e fantasia, erotismo tratado com pertinência e elegância.
Por estes tempos, onde ando à caça de respostas, os livros tem falado comigo de maneira eloquente.
Com este foi assim.
O livo é uma estória de amor, destes ilógicos e eternos e a convivência com este até a morte.
Amor instantâneo entre dois jovens de classes sociais diferentes mas que passam por cima deste detalhe para satisfazerem seus desejos de estarem juntos. O desejo sexual satisfeito é fator de união e felicidade do casal que segue tentando superar suas diferenças.
Fala , também, da relação pais e filhos, da vida, dos dons e da morte.
Um romance com toda a humanidade que uma boa estória pode ter.

Neste trecho, já no final do romance, a personagem Chuva, fala da profissão do seu pai, telegrafista, um homem que lidava com as significações da palavra.

" O interessante do processo de comunicação é que nos permite tomar consciência de que as palavras saem de nossos corpos, por escrito, faladas ou cantadas e voam pelo espaço , carregadas do eco de outras vozes que antes de nós já as haviam pronunciado.
Viajam pelo ar, banhadas da saliva de outras bocas , de vibrações de outros ouvidos, da pulsação de milhares de corações alvoroçados. Filtram-se até o centro da memória e ficam lá, quietinhas, até que um novo desejo as reanime e as carregue de energia amorosa. Essa é uma das qualidades da palavra que mais me comovem, sua capacidade de transmitir amor. As palavras, assim como a água,  são maravilhosas condutoras de energia. E a que mais poder transformador tem é a amorosa."

Onde achar: o meu pedi na " estante virtual". Não sei se temos nas livrarias.

domingo, 4 de dezembro de 2016

Livros- Você é Jackie ou Marylin- Pamela Keog



Certo, queridos mestres, podem criticar e dar bronca, mas este livro li por pura curiosidade e diversão.
Como fã das duas personalidades descritas, Jackie Kennedy Onassis e Marylin Monroe,bonita capa, sob um título instigante e um preço irrecusável, cedi à tentação.
Sim, já esperava, pelo título, algo como é : Conselhos para mulheres dos dias de hoje, alguns bem sofríveis, baseados no modus vivendi das duas famosas personalidades.
Mas, para o bem ou para o mal, rever alguns fatos biográficos de duas mulheres contemporâneas que tiveram atenção mundial e marcaram para sempre a história, foi bastante oportuno.
De quebra, leva-se uma boa injeção de auto-estima.

Deixo aqui uma declaração de Marylin, dada aos jornalistas ao se separar de seu último marido, Arthur Miller, com a qual concordo " Todo mundo que já amei, ainda amo um pouco."

Onde achar: não sei, talvez livrarias, sebos.
O meu exemplar comprei na Top Books, na Bienal do livro de SP em agosto de 2016.

terça-feira, 29 de novembro de 2016

Um pouco de Cecília Meirelles




Novembro de Cecília

Cecília é muito mais do que o pouco que está aqui escrito.
Não percam  oportunidade de conhecê-la.

Cecília Meirelles , poeta maior da nossa língua, professora e divulgadora da cultura nacional mundo a fora.
Escritora premiadíssima!
Nasceu no dia 7 de novembro de 1901 e faleceu em 09 de novembro de 1964.
Ao conhecer sua história fiquei tão comovida e apaixonada que me senti doente, doente de Cecilia.
Cecilia, aquela que se deixa cortar a cada primavera para renascer inteira.
Cecília do autobiográfico “Olhinhos de Gato”.
Cecília dos barcos, dos luares, do mar, dos andares.
Cecília para adultos e crianças, leigos e especialistas.
Cecília para todos!
Sempre, sempre e mais Cecília!
ps: Curiosidade:  o Meirelles tem dois eles, oficialmente. Meireles, com um ele só foi adotado pela autora que  atribuiu à esta nova grafia uma melhora em sua vida.

CANÇÃO DE ALTA NOITE

Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.

Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.

Andar... — enquanto consente
Deus que a noite seja andada.

Porque o poeta, indiferente,
anda por andar — somente.
Não necessita de nada.

De Vaga Música (1942)

Este poema de Cecília me trouxe bons momentos e bons amigos.
Logo que comecei meu trabalho literário houve a oportunidade de fazer leituras e oferecer poemas que ficavam dependurados num varal na PraçaXV em homenagem `a um dia comemorativo qualquer.
No varal, este poema.
No meu sentir e ser, este poema.
Por ele, Jair Yanni e Ely Vieitez Lisboa, pessoas que admirava e que conheci pessoalmente ali, lendo Cecília.
Aproveitem!!
Cecília Meireles

Gargalhada
 

Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:


Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah! 


Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais, 
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas, 
destruir as lâmpadas, abater cúpulas, 
e atirar para longe os pandeiros e as liras...


O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.


Mas é preciso ter baixelas de ouro, 
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...


Escuta bem:


Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah! 


Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
do céu que venta, 
do mar que dança, 
e de mim.
 


Cecília é toda linda!

LUA ADVERSA 

Tenho fases, como a lua
 
Fases de andar escondida,
 
fases de vir para a rua...
 
Perdição da minha vida!
 
Perdição da vida minha!
 
Tenho fases de ser tua,
 
tenho outras de ser sozinha.
 

Fases que vão e vêm,
 
no secreto calendário
 
que um astrólogo arbitrário
 
inventou para meu uso.
 

E roda a melancolia
 
seu interminável fuso!
 
Não me encontro com ninguém
 
(tenho fases como a lua...)
 
No dia de alguém ser meu
 
não é dia de eu ser sua...
 
E, quando chega esse dia,
 
o outro desapareceu...

Cecília das crianças.

A Língua de Nhem


Havia uma velhinha
que andava aborrecida
pois dava a sua vida
para falar com alguém.
E estava sempre em casa
a boa velhinha
resmungando sozinha:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
O gato que dormia
no canto da cozinha
escutando a velhinha,
principiou também
a miar nessa língua
e se ela resmungava,
o gatinho a acompanhava:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
Depois veio o cachorro
da casa da vizinha,
pato, cabra e galinha
de cá, de lá, de além,
e todos aprenderam
a falar noite e dia
naquela melodia
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
De modo que a velhinha
que muito padecia
por não ter companhia
nem falar com ninguém,
ficou toda contente,
pois mal a boca abria
tudo lhe respondia:
nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
Cecília Meireles, Ou isto ou aquilo

Anexo mais este poema, por recomendação dos leitores

Epigrama Nº 8

(Cecília Meireles) 

Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda. 
Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti. 

Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil, 
fiquei sem poder chorar, quando caí.


domingo, 27 de novembro de 2016

Livros- Menos- Lucas Arantes



Livro de poemas ,  pensamentos, minicontos do múltiplo Lucas Arantes, jornalista, escritor, professor, dramaturgo, etc, etc, etc...
O livro é Lucas, sua melhor definição, sua cabeça múltipla que não aceita explicação mas que se faz entender, ou não, mas que está ali , ao alcance para ser visto, consumido.
Uma frase do primeiro texto foi a isca para que eu o quisesse por inteiro, e é assim mesmo, alguma coisa , de repente, te fisga, mesmo sem você saber direito o que foi.

Deixo aqui "Tédio"

o tédio chegou de trem e não queria mais ir embora
o pai falou que ninguém mais viaja de trem:
só de ônibus, metrô, carro e avião.
eu expliquei que meu tédio era antigo.

Onde achar: com o autor ou a editora coruja.
 O meu exemplar adquiri  pouco tempo após o lançamento em um evento da Oficina Cultural Cândido Portinari onde Lucas Arantes falou sobre sua obra e a de Herman Hesse em maio de 2016.

terça-feira, 22 de novembro de 2016

Convivendo




Não há convivência sem atritos.
É normal, mas tem gente que acha que é extraordinário.
Quanto mais perto do outro, mais vemos os seus defeitos.
A vivência nos ensina que não há o perfeito.
Para usufruir das qualidades é necessário aguentar os defeitos.
Eu digo que para usufruir das qualidades é necessário aprender a contornar os defeitos.
Se você sabe que determinada zona causa desconforto, desvie.
Se, sem querer, no afã do cotidiano que nos exige rapidez de atos e decisões, alguns acidentes de percurso se apresentarem, tentemos relevar.
Peçamos e aceitemos desculpas.
Joelhos ralados e cotovelos roxos,pisões nos pés, são doloridos mas não são fatais.
Lidar com o outro é aprendizado constante, já que nem nós nem o outro são estáveis.
O tempo, as condições atmosféricas,a temperatura, o dia do mês e a posição dos astros, aliados a qualquer desconforto físico, nos desestabilizam.
Somos mutantes, mesmo que não o admitamos, mudamos.
E mesmo sob o incômodo da mudança isso é bom, mais bom que ruim.
Por isso o tempo, o entendimento, o perdão próprio e alheio e o respeito, são ítens básicos de sobrevivência grupal pacífica.
A honestidade é essencial!!!
A disposição de aprender com os erros, cair e levantar, recomeçar e sorrir, são exigências do fato.
Ignorar a palavrinha "mágoa" é exercício diário.
Tentemos!!!
Pela paz!!!

domingo, 20 de novembro de 2016

Livros- Paixão Desmedida- Ely Vieitez Lisboa



Segundo livro de poemas da mestra Ely,edição de 1996.
Penso em quem eu era em 96, pertencia a outro mundo...
No livro, dividido em duas partes,  uma delas dedicada à Florbela Spanca, a apaixonadíssima poeta, Ely dá vazão à verve apaixonada, a atitude entregue.
Na outra parte fala sobre a Europa, locais visitados, de uma forma muito peculiar que mostra, a todo instante, uma surpreendente face dsa cidades.
Revisitei os lugares pela visão de Ely.
Do livro destaco " Sensações" que inicia-se assim:

 "Quando me falaste da floração das tílias
  e me deste um fresco verde ramo delas
  foi teu perfume que me embriagou
  e não o das flores."

Onde achar: com a autora, em feiras literárias da cidade de Ribeirão Preto, ou em sebos.
O meu exemplar ganhei como brinde em uma oficina literária ministrada pela autora em junho de 2016, durante a 14ª Feira do Livro de Ribeirão Preto.

terça-feira, 15 de novembro de 2016

A Esperança




Não costumo esperar.
Aprendi o truque para evitar a dor da decepção.
Não espero. Mato no peito quando vem, baixo a bola, e toco, se possível para o gol.
Deve ser hábito adquirido.
A infância não me deixou desejos insatisfeitos.
Não desejava além do que havia.
E assim era bom.
A adolescência não me contemplou com quereres impossíveis.
Tinha um mar de opções, qualquer uma delas válida e viável.
Tinha mais vida do que capacidade de viver.
Deixei muita coisa para trás.
Adulta, o realizar passava à frente do desejar. Assim, muito foi feito.
Só neste tempo recente é que o pouco desejado e não alcançado deixou estragos no meu peito.
Uns estragos que se fizeram suaves e que se curaram em um aprendizado intensivo.
A Esperança, a clássica e generalizada, é parte da minha personalidade, existente desde sempre.
Anda de mãos dadas com a Fé. Coisas de otimista.
Quanto aos desejos específicos, tenho aprendido que é melhor não tê-los de maneira tão absoluta, mas realizá-los no que me é oferecido e permitido.
Por enquanto é esta a verdade provisória.
Amanhã, quem sabe o que será?

Ps:O amanhã já é hoje.
Repensando o texto vejo que não fui totalmente honesta.
Houve alguns intensos episódios de frustração que contribuíram como lição para esta postura, bem como o exemplo e atitudes de amigos que foram guia para este aprendizado.
A experiência do outro também pode ser a nossa.
E por enquanto é isso.

domingo, 13 de novembro de 2016

Livros- Dammapada- Pelos caminhos de Buda



A curiosidade é constante e quando a oportunidade surge, aproveitamos.
Assim conheço mais um pouquinho do budismo, peso, penso, concordo e discordo, mas acima de tudo, aprendo.

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Desolada



Acabei de ler um livro.
Um romance que me arrebatou e me levou  para passear em uma cidade que visitei.
Com ele caminhei pelas ruas,praças, bosques.
Senti os cheiros, vi as pessoas, adivinhei o clima, subi e desci as escadas do metrô.
Estendi o olhar pela paisagem.
Torci pela sorte de seus personagens nada retos e tão humanos. Personagens que dividiram minha atenção deste meu especial tempo de angústia e espera.
E agora acabou...
Não mais saberei de sua sorte, nem procurarei pelas páginas seus  nomes familiares.
Estou novamente a sós com minha vida real.
Sinto-me órfã, desolada.
Não será um adeus , é apenas uma até breve, logo outro livro se apresentará.
Torço para que seja um livro chato, destes que se arrastam para serem lidos e que , por vezes, só lemos para cumprir o objetivo de chegar ao fim.
Preciso trabalhar, fazer coisas, tocar a vida.
É assim, amigos, a leitura para mim.
A rota de fuga de primeira escolha e máxima qualidade.
Um livro aberto é uma imensidão de possibilidades, seja ele sobre o que for.
Ali dentro, entre as capas, há um mundo a ser descoberto, relembrado, discutido, apreendido.
Quisera contaminar ,com este meu entusiasmo pelas letras, todos do caminho.
Por isso digo o que sinto, e partilho com vocês, torcendo para que se animem e experimentem a leitura.
Quanto a mim, gostei tanto do autor que já estou procurando outros de seus livros.
Contado o milagre, vamos ao santo: O baile da Vitória- Skármeta
Boa sorte!!!

domingo, 6 de novembro de 2016

Livros- Mulheres na Jornada do Herói-Pequeno guia de viagem- Beatriz del Pichia e Cristina Balieiro



A mãe de uma das autoras entrou em contato comigo para saber o meio de expor o livro de sua filha na Feira do Livro de Ribeirão Preto. Foi assim que tomei conhecimento do livro e do site , que sigo.
O livro foi o primeiro desejo, ainda sem se concretizar, pois comprei o pequeno, no estande dos autores durante a Feira do Livro deste ano, como um pequeno aperitivo.
A Jornada já é minha velha conhecida, da vida, da literatura, até das danças circulares, faltava a sistematização.
Optei pelo guia de viagem para levá-lo em leitura leve e rápida na bolsa.
Muito apropriado.
O livro é baseado na Jornada do Herói de Joseph Campbel, acrescido de depoimentos
Super indicado para quem quer nominar sua jornada, reconhecê-la, indicá-la, entendê-la e não se sentir só na estranheza que ela causa no entorno quando acontece.
Um bálsamo.
Parabéns às autoras.

domingo, 30 de outubro de 2016

Livros- Memórias de Uma moça bem comportada- Simone de Beauvoir




Simone de Beauvoir sempre foi uma curiosidade em pauta.
Livro reservado para leitura oportuna. A lembrança desta oportunidade aconteceu no final do ano de 2015 através do " amigo secreto"do grupo de leitura, quando recebi o livro de presente.
Era a hora!
Iniciei a leitura, livro longo de letras miúdas, algo desconfiada de alguém que conta em minúcias seus dias,atos, em análise constante de si.
Acabei mergulhada na vida de Simone moça, sem querer sair dalí.
Um  encontro, conhecimento, reconhecimento, caminhos trilhados por outra pessoa mas que tanto dizem a mim como se fossem meus e dos meus próximos.
E isso foi há muito tempo, no século passado.
Ainda curiosa quero mais Simone.
Simone foi uma pensadora, escritora, estudiosa, nascida em 9 de janeiro de 1908 e falecida em 14 de abril de 1986.
 "De vez em quando, olhava os outros leitores e afundava com satisfação em minha poltrona: estava no meu lugar, entre os eruditos, os sábios, os pensadores, os pesquisadores. Não me sentia absolutamente mais rejeitada pelo meu meio: eu é que o abandonara a fim de entrar nessa sociedade de que via ali uma miniatura, e na qual comungavam através do espaço e dos séculos todos os espíritos interessados na verdade."

Carlos Drummond de Andrade




Carlos Drummond de Andrade- o poeta do mês de outubro, dia 31

Drummond nasceu em minas, na Itabira de ferro.
Morou em Belo Horizonte, foi para o colégio interno, foi para o Rio, outro colégio, foi expulso dele, decidiu ser farmacêutico , fez faculdade, não foi, tentou ser professor, não deu, ingressou no serviço público e ficou, exemplar.
Ocupou posições importantes pela mão dos amigos de colégio.
Casou-se, procriou, escreveu muito.
Jornalista, contista, cronista, tradutor, poeta.
O lirismo, o humor, o sarcasmo, a modernidade , o contemporâneo e um certo e constante tom de cinza povoam a  paisagem de seus versos.
Tudo muito bom!
Nada muito fácil!
Comecemos pelo polêmico poema da pedra. O poema – escândalo.
No meio do caminho


No meio do caminho tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
tinha uma pedra
no meio do caminho tinha uma pedra.


Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
 
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
 
Tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.


O questionamento do mundo na pessoa do José.

JOSÉ

             E agora, José?
          A festa acabou,
          a luz apagou,
          o povo sumiu,
          a noite esfriou,
          e agora, José?
          e agora, você?
          você que é sem nome,
          que zomba dos outros,
          você que faz versos,
          que ama, protesta?
          e agora, José?
          Está sem mulher,
          está sem discurso,
          está sem carinho,
          já não pode beber,
          já não pode fumar,
          cuspir já não pode,
          a noite esfriou,
          o dia não veio,
          o bonde não veio,
          o riso não veio
          não veio a utopia
          e tudo acabou
          e tudo fugiu
          e tudo mofou,
          e agora, José?
          E agora, José?
          Sua doce palavra,
          seu instante de febre,
          sua gula e jejum,
          sua biblioteca,
          sua lavra de ouro,
          seu terno de vidro,
          sua incoerência,
          seu ódio - e agora?
          Com a chave na mão
          quer abrir a porta,
          não existe porta;
          quer morrer no mar,
          mas o mar secou;
          quer ir para Minas,
          Minas não há mais.
          José, e agora?
          Se você gritasse,
          se você gemesse,
          se você tocasse
          a valsa vienense,
          se você dormisse,
          se você cansasse,
          se você morresse...
          Mas você não morre,
          você é duro, José!
          Sozinho no escuro
          qual bicho-do-mato,
          sem teogonia,
          sem parede nua
          para se encostar,
          sem cavalo preto
          que fuja a galope,
          você marcha, José!
          José, para onde?
  

A saudade da essência. Confissões do Itabirano
Confidência do Itabirano 
Alguns anos vivi em Itabira.
Principalmente nasci em Itabira.
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro.
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas.
E esse alheamento do que na vida é porosidade e
[comunicação.

A vontade de amar, que me paralisa o trabalho,
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e
[sem horizontes.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
é doce herança itabirana.

De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil,
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval;
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas;
este orgulho, esta cabeça baixa...

Tive ouro, tive gado, tive fazendas.
Hoje sou funcionário público.
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
Mas como dói! 

O tempo que já chegou.
Os Ombros Suportam o Mundo
Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.


Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.


Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teu ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.


domingo, 23 de outubro de 2016

Livros- A Bruxinha que caiu da vassoura- Cristiane Framartino Bezerra



Segundo livro da Coleção Borboleta Bela de Cristiane Framartino Bezerra, o primeiro foi "O menino e o mistério do arco-iris", dedicado ao público infanto-juvenil de todas as idades, ilustrado por Bárbara Glenda.
Cheio de magia e encantamento o livro traz em seu enredo boas possibilidades de expansão.
Material para boas conversas, leituras compartilhadas entre colegas, pais e filhos, irmãos.
Parabéns, Cristiane!
Que venham os próximos!!

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

Bem sucedido!



Hoje fui fazer os exames de saúde, rotina.
A médica que me atendeu , na clínica luxuosa e confortável que atende o meu convênio, é uma mulher  jovem, bonita, bem vestida, certamente realizada em sua profissão e bem sucedida financeiramente, que estava ligeiramente irritada, cansada e grávida.
Encantei-me, como de costume, com a gestante e sua beleza indisfarçável. Beleza que nem ela mesma tem consciência, tão natural que é.
Entre um exame e outro conversamos sobre a gravidez, os filhos, ela já tem um pequeno e espera o segundo. Relatando seu cotidiano percebi o porquê de sua irritação.
Vi nela o meu próprio retrato. Tenho  duas filhas grandes e vivi o que ela vive.
Meu coração encheu-se de solidária ternura.
O tempo passa e nada muda na situação da mulher, porque não tem nada para ser mudado.
A questão biológica da maternidade credencia a mulher como cuidadora primeira do filho.
É possível e desejável ter ajuda mas a mulher que opta pela maternidade quer ser mãe e exercer os cuidados cotidianos. Faz parte da função.
A mulher moderna é educada para a profissão e tem muito sucesso nela porque é dedicada e capaz.
Mas, como mulher, tem também seu lado pessoal que inclui família e casa. E não me venham com essa "que homem também tem"  porque é social e biologicamente diferente.
Então, esta profissional dedicada chega em casa e ainda vai cuidar do filho, da casa, de si.
Mesmo que tenha ajuda, como tem, termina o dia exausta.
Passei por isso e as mulheres de todas as classes sociais continuam passando.
Fiquei morrendo de vontade de dar um conselho.
Mas, se conselho fosse bom não seria dado, seria vendido.
Então calei-me e coloco aqui o meu pensar
É preciso qualificar o sucesso.
Ser bem sucedido é poder suprir-se com o necessário e o desejado.
Para esta mulher, que tem suas necessidades básicas materiais bem supridas, o necessário seria o tempo para o exercício de seu desejo, sua escolha pela maternidade.
Escolha perfeitamente válida e que merece o tempo para  ser vivida.
Tempo para banhar, alimentar, brincar e ouvir o filho, tempo para gestar,  preparar e sonhar o futuro de uma nova vida, tempo para cuidar da energia acolhedora do lar, tempo para sentir-se feliz.
Ser bem sucedido é  poder dar-se este tempo, trabalhar menos, para ser mais.
O sucesso é desejar e realizar o que realmente é importante para si no momento, independente do que seja, e ser honesto neste desejo, sem cair nas armadilhas sociais e comerciais.
Pena que na juventude poucos saibam disso.
E o tempo, amigo, passa.
As crianças crescem, os cônjuges envelhecem, a saúde deteriora.
O tempo é agora!!

PS: A clínica passou por uma reforma e, pela remoção de uma divisória, apareceu, magicamente, uma grande janela com uma vista magnífica. Nem a secretária tinha reparado nela!