Livro é tudo de bom!!!
Amo, desde sempre,ler!!!
Talvez meu primeiro livro oficial, e o de muita gente, aquele que a escola recomenda, tenha sido “O Menino do dedo verde “ e Maurice Druon.
Pela mesma época eu tinha um livro de contos infantis , dos
quais não me lembro, mas com belíssimas ilustrações.
Daí veio, pelas mãos
do pai, o “Reinações de Narizinho” do Monteiro Lobato, muitas páginas no
desértico branco e preto das letras sobre o papel com raras ilustrações, também
sem cor.
Apaixonante!!!!
Acho que eu era uma pessoa normal até aí, até “Reinações”.
Tinha 10 anos então, e ainda brincava na rua, com bonecas, e
sonhava em ser bailarina.
Depois mudei-me de cidade, de fase escolar, de categoria
humana, deixei de ser criança, virei uma quase moça, sem brinquedos na rua,
duvidando do direito às bonecas no Natal.
Fui morar perto de uma prima, professora, que tinha uma
coleção imensa de livros infanto-juvenís, da Abril, coloridos, capas duras.
Lí-os todos! Devorei-os, um atrás do outro, sem descanso.
Tarefa para mais de um ano.
Mudei de escola, esta tinha biblioteca e aprendi o caminho.
Poderia ser considerada uma “nerd” na época, o livro sempre
debaixo do braço, sem dar espaço a tempo perdido, na aula vaga, no intervalo.
E ia a festas , namorava, brincava, ria, dançava, como todo
mundo.
Quando entrei no colegial, mudei novamente de escola e , na
visita ao prédio novo perguntei pela biblioteca.
Ela existia, mas estava fechada.
Quem quisesse usá-la, podia pedir a chave, enfrentar o pó, e devolver depois.
Muitas vezes entrei ali, sozinha, dona de todos os livros
abandonados.
Li, li e li. Geralmente livros emprestados, ganhados ou
recomendados por amigos leitores.
Li para o vestibular, entrei para a faculdade e...Parei de
ler!!!!
Não dava tempo, o mundo era cheio de novidades, exigências
de gente grande e responsabilidades.
Estudei, me formei e daí, na inércia da espera dos primeiros
tempos profissionais, descobri os sebos.
Pegava os livros, lia e depois os trocava por outros.
Tanta coisa boa passou por minha mão!
Daí vieram os filhos e a vida apertou o passo.
Na mesma época comecei a trabalhar em escolas e, nelas,
continuei descobrindo as bibliotecas.
Tinha as chaves, o desejo, a curiosidade pelo mundo sem fim
dos autores contemporâneos.
Lia, recomendava, arrumava estantes, tirava o pó. E esse nem
era o meu trabalho.
Meu trabalho era bem outro.
Assim fui do ensino fundamental, para a pré escola, depois de volta para o
fundamental com o médio.
Aí foi a glória!!!!!
A biblioteca desta escola era imensa, tinha bibliotecária, e
o governo mandava caixas de livros para a biblioteca, os professores e alunos.
Como todos sabiam do meu gosto, eu era chamada para ajudar a
abrir as caixas.
Era deslumbrante!!
A emoção do papel virgem, da qualidade, da raridade.
Um sonho !!!
Li muito, li demais, li com foco, li com desejo, li como pesquisa e , de repente, escrevi.
Escrevendo, leio para aprender, para trocar, para conhecer,
para ensinar, por indicação, porque foi presente, para opinar, por deleite,
para viajar, para enriquecer minha cultura, para inspiração, para escrever.
Assim, o livro se tornou, para mim, um grande amigo,
companheiro de todas as horas, do descanso, do lazer, das esperas, da solidão ,
da dor, coadjuvante das alegrias, depositário de encantos. Antídoto contra a
dureza das objetividades, o livro é um convite à viagem, uma porta para outro
lugar, uma fuga, uma alento.
Dia que me arrependo é quando não ponho um livro na bolsa e
perco o tempo precioso em alguma inesperada espera.
E esta é minha história com os livros.
Vivo cercada, há pilhas deles e classificações para as
esperas,e sempre chegam mais.
Criei um registro no computador onde anoto sobre os livros
lidos, para não me esquecer. Isso me
ajuda muito, me obriga a pensar, refletir sobre o que foi aquele livro para
mim.
Há frentes de leitura, normalmente três .
Ainda tenho alguma pressa no ato.
É a gula literária.
Leio em papel, é mais
gostoso, dobro as páginas, às vezes me atrevo a grifar algo mesmo com temor do
dano.
Leio e uso o computador para ampliar a leitura ou dirimir
dúvidas.
Leio livros novos e usados.
Gosto muito dos usados, vem com história extra, uma
dedicatória, um nome, um poema, uma flor seca, uma nota de dinheiro ou a nota
de compra, carimbo ou selo de uma livraria extinta.
Amo ler !
Eu te convido a amar também.
Eliane Ratier, já obesa pelo alto consumo literário.