turma da prefeitura, do mutirão, em despedida |
flor, bolo |
livro com dedicatória |
eu , toda mimada |
Aposentando
Muitos podem pensar que não ligo mais para a odontologia,
que mudei de amores, que traí minha profissão, abandonei os colegas.
Sei.
Mas sei também que não está sendo fácil.
Assinar papéis sem saber ao certo o que são.
Confiar em quem nunca vi para tratar destas questões, e sair
de um escritório ciente de que nunca mais farei o que fui treinada para
fazer, e que fiz por anos e ainda poderia
continuar fazendo por muitos mais.
Essa é uma parte bem estranha da coisa.
No mais , é bom que saibam que a odontologia me deu tudo que
tenho.
Me deu a universidade,
a oportunidade de entrar numa faculdade pública em primeira
tentativa, anexar as três letrinhas,
USP, à minha vida e à vida de minha família, como primeira universitária.
Devolveu-me Ribeirão Preto, a cidade onde passei minha
infância, suas belezas, seu clima, sua juventude e dinamismo, fez-me gente de
sua gente, convivente, servidora desde o
princípio.
Apresentou-me o marido , também um recém-chegado nesta terra
e, com ele, uma nova família. Ganhei sogros, cunhados, sobrinhos.
Aqui nos tornamos profissionais e formamos raízes, fizemos
carreira e família, demos à Terra do Ribeirão Preto, duas nativas.
Meu trabalho me levou por muitos caminhos, consultórios na Visconde de Inhaúma, no Jardim das Pedras,
na Florêncio de Abreu por três vezes, até fechar de vez, jogar a toalha.
Neste caminho aperfeiçoei-me em ortodontia preventiva e
saúde pública.
Fiz amigos de vida
e para toda a vida dos quais tenho
sempre lembranças do que vivemos.
Logo entrei para o funcionalismo público, 1987, dentista da
prefeitura, numa das gestões do dr Vicente e do dr Raia, respectivamente meu
dentista de infância e meu pediatra.
Montei o consultório do Castelo Branco, quando ainda era bem
pequenininho.
Tive a primeira filha com as regalias de um funcionário,
licença maternidade, férias e tudo o mais.
Assim que voltei ao trabalho fui deslocada para as escolas.
Senti-me temerosa, pediatria não era o meu forte, mas
começavam aí os desafios, a incerteza que norteou esta vida de funcionária pública.
Comecei no Raul Machado, junto com a Mara Verri, uma companheira pacienciosa e
gentil.
Fiquei ali por 6 anos.
Aí, já com duas filhas, morando longe dali, consegui uma
transferência para o Sumarezinho, a EMEI Áurea Braghetto , o grande desafio de atender os pré-escolares,
por 4 anos.
De lá mudei-me para Bonfim Paulista, também para ficar
próximo à minha casa, Escola Estadual Francisco da Cunha Junqueira, crianças
maiores, adolescentes, colegiais, moradores de áreas rurais. Uma realidade que
retrocedia em 10 anos a condição bucal dos alunos.
Um imenso desafio.
Dividia o cargo com a Dra Bárbara e ocupava a sala que
pertenceu ao Dr José dos Reis Miranda , a pessoa com quem comecei minha carreira,
e de quem comprei o meu primeiro consultório e que já não estava entre nós.
Senti-me amparada e abençoada.
Ali, devido às condições ruins da saúde bucal dos alunos,
resolvi intensificar a comunicação com os pais , que era feita oralmente, ou
por bilhetes, de maneira mais
sistemática, através de textos educativos pré elaborados, impressos e
distribuídos conforme os casos.
Começava , assim, a
segunda carreira. Brotava a escritora.
O livro sobre saúde bucal ainda é inédito, mas já publiquei
dois outros de poemas e fiz muitas e muitas coisinhas estimulada por este meu
desejo de me aprimorar na comunicação, me fazer entender para melhorar a
condição de saúde dos alunos.
Fiquei em Bonfim por 13 anos.
Fui para a Vila
Tibério, outra escola estadual, a Hermínia Gugliano, aproximando-me de casa, fiquei ali por 3 anos.
Termino esta história novamente numa escola do município, o
Anísio Teixeira, onde fiquei por um ano, dividindo o cargo com a colega Dra
Tininha.
Só tenho a agradecer pelo caminho que me foi proporcionado,
além das escolas, cumpri, como todos, períodos em postos de saúde, participei de campanhas de prevenção de câncer
bucal e do singular e muito bom
“Mutirão”,invenção destes últimos 6 anos, onde pude exercitar com plenitude meu
desejo de comunicação e onde a convivência em grupo foi uma grande experiência.
Todas estas andanças só fizeram enriquecer minha condição
humana, aproximar-me da educação , matéria na qual tenho grande interesse.
Agora me aposento e abraço totalmente a segunda carreira
iniciada há 7 anos , a carreira artística, como escritora, atriz, promotora e agitadora cultural.
Levo para a nova carreira a disciplina e a experiência
humana que a odontologia me proporcionou.
Nunca deixarei de ser uma dentista, uma profissional que
acredita na saúde para uma vida melhor, que acredita em prevenção e educação e
estarei sempre disposta a defender estas bandeiras.
As carreiras, mãos unidas, deram-me a oportunidade
de fazer parte da diretoria da Aorp, esta conceituada entidade da classe
odontológica. Trabalho que prezo e que me traz imenso aprendizado.
Como vêem a odontologia me deu muito !
Trabalhei duro, nada vem de graça, agora usufruo do direito
que me é reservado e que permitirá com que eu continue servindo ao meu próximo
de outra maneira.
Feliz e grata por tudo.
Ribeirão Preto- outubro de 2014
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