Contardo Calligaris
Tanto já se falou sobre Contardo por ocasião de sua morte recente, até eu mesma, mas ainda tenho algumas palavrinhas a dizer.
Sou fã e fui
leitora de sua coluna na Folha por muito tempo, enquanto ainda tinha acesso ao
jornal físico.
Ele esteve
em Ribeirão Preto para o lançamento de seu livro “O Conto do Amor” na livraria
Saraiva do Shopping Santa Úrsula em 2008 e ficou para uma conversa com os
presentes.
(Palavras
estranhas estas anteriores, soam algo fantasmagóricas nestes tempos de pandemia
e isolamento social.)
Chance boa
de conhecer o escritor.
Conversa das
boas.
Um detalhe
chamou-me a atenção, seus trajes.
Longe de
descompostos, ele se vestia com elegância e simplicidade, mas me pareceu que de
maneira sempre igual, como se fosse uma fórmula, um método para evitar erros ou
poupar escolhas.
Deste modo
imagino seu guarda roupa com uma coleção de calças jeans, camisas azuis de
mangas longas, algumas jaquetas cáquis e sapatos marrons.
Qualquer
traje que pegasse pela manhã deixaria-o bem vestido, confortável e a seu gosto.
Bastante
inteligente e acima de tudo prático.
Se não era
esta, a história, bem que poderia ter sido.
Fica aqui
declarada minha admiração ao célebre psicanalista e um trecho do romance que me
toca e emociona.
“Essa foi a
última vez que meu pai e eu conversamos. Talvez tenha sido a única; e com
certeza foi a única em que ele não se queixou de não ter conseguido falar
comigo.
Quando o revi,
um mês mais tarde, meu pai também estava deitado em sua cama, e de ovo dei um
beijo em sua testa. Mas ele estava morto.
No fim do longo velório, quando todos foram embora, sentei na cama e fiz sua barba mais uma vez. Para onde quer que ele viajasse, para o céu ou para o nada, achei que gostaria de chegar de barba feita."
O Conto do Amor, CIA das Letras, 2008 , Saraiva do Shopping Santa Úrsula, das mãos do autor.
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