quarta-feira, 14 de abril de 2021

Contardo Calligaris

 Contardo Calligaris




 Tanto já se falou sobre Contardo por ocasião de sua morte recente, até eu mesma, mas ainda tenho algumas palavrinhas a dizer.

Sou fã e fui leitora de sua coluna na Folha por muito tempo, enquanto ainda tinha acesso ao jornal físico.

Ele esteve em Ribeirão Preto para o lançamento de seu livro “O Conto do Amor” na livraria Saraiva do Shopping Santa Úrsula em 2008 e ficou para uma conversa com os presentes.

(Palavras estranhas estas anteriores, soam algo fantasmagóricas nestes tempos de pandemia e isolamento social.)

Chance boa de conhecer o escritor.

Conversa das boas.

Um detalhe chamou-me a atenção, seus trajes.

Longe de descompostos, ele se vestia com elegância e simplicidade, mas me pareceu que de maneira sempre igual, como se fosse uma fórmula, um método para evitar erros ou poupar escolhas.

Deste modo imagino seu guarda roupa com uma coleção de calças jeans, camisas azuis de mangas longas, algumas jaquetas cáquis e sapatos marrons.

Qualquer traje que pegasse pela manhã deixaria-o bem vestido, confortável e a seu gosto.

Bastante inteligente e acima de tudo prático.

Se não era esta, a história, bem que poderia ter sido.

Fica aqui declarada minha admiração ao célebre psicanalista e um trecho do romance que me toca e emociona.

 

“Essa foi a última vez que meu pai e eu conversamos. Talvez tenha sido a única; e com certeza foi a única em que ele não se queixou de não ter conseguido falar comigo.

Quando o revi, um mês mais tarde, meu pai também estava deitado em sua cama, e de ovo dei um beijo em sua testa. Mas ele estava morto.

No fim do longo velório, quando todos foram embora, sentei na cama e fiz sua barba mais uma vez. Para onde quer que ele viajasse, para o céu ou para o nada, achei que gostaria de chegar de barba feita."

O Conto do Amor, CIA das Letras, 2008 , Saraiva do Shopping Santa Úrsula, das mãos do autor.

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