Novembro de Cecília
Cecília é muito mais do que o pouco que está aqui escrito.
Não percam oportunidade de conhecê-la.
Cecília Meirelles , poeta maior da nossa língua, professora
e divulgadora da cultura nacional mundo a fora.
Escritora premiadíssima!
Nasceu no dia 7 de novembro de 1901 e faleceu em 09 de
novembro de 1964.
Ao conhecer sua história fiquei tão comovida e apaixonada
que me senti doente, doente de Cecilia.
Cecilia, aquela que se deixa cortar a cada primavera para
renascer inteira.
Cecília do autobiográfico “Olhinhos de Gato”.
Cecília dos barcos, dos luares, do mar, dos andares.
Cecília para adultos e crianças, leigos e especialistas.
Cecília para todos!
Sempre, sempre e mais Cecília!
ps: Curiosidade: o Meirelles tem dois eles, oficialmente. Meireles, com um ele só foi adotado pela autora que atribuiu à esta nova grafia uma melhora em sua vida.
CANÇÃO DE ALTA NOITE
Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.
Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.
Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.
Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.
Andar... — enquanto consente
Deus que a noite seja andada.
Porque o poeta, indiferente,
anda por andar — somente.
Não necessita de nada.
De Vaga Música (1942)
Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.
Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.
Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.
Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.
Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.
Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.
Andar... — enquanto consente
Deus que a noite seja andada.
Porque o poeta, indiferente,
anda por andar — somente.
Não necessita de nada.
De Vaga Música (1942)
Este poema de Cecília me trouxe bons momentos e bons amigos.
Logo que comecei meu trabalho literário houve a oportunidade
de fazer leituras e oferecer poemas que ficavam dependurados num varal na
PraçaXV em homenagem `a um dia comemorativo qualquer.
No varal, este poema.
No meu sentir e ser, este poema.
Por ele, Jair Yanni e Ely Vieitez Lisboa, pessoas que
admirava e que conheci pessoalmente ali, lendo Cecília.
Aproveitem!!
Cecília Meireles
Homem vulgar! Homem de coração mesquinho!
Eu te quero ensinar a arte sublime de rir.
Dobra essa orelha grosseira, e escuta
o ritmo e o som da minha gargalhada:
Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!
Não vês?
É preciso jogar por escadas de mármores baixelas de ouro.
Rebentar colares, partir espelhos, quebrar cristais,
vergar a lâmina das espadas e despedaçar estátuas,
destruir as lâmpadas, abater cúpulas,
e atirar para longe os pandeiros e as liras...
O riso magnífico é um trecho dessa música desvairada.
Mas é preciso ter baixelas de ouro,
compreendes?
— e colares, e espelhos, e espadas e estátuas.
E as lâmpadas, Deus do céu!
E os pandeiros ágeis e as liras sonoras e trêmulas...
Escuta bem:
Ah! Ah! Ah! Ah!
Ah! Ah! Ah! Ah!
Só de três lugares nasceu até hoje essa música heróica:
do céu que venta,
do mar que dança,
e de mim.
Cecília é toda linda!
LUA ADVERSA
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Tenho fases, como a lua
Fases de andar escondida,
fases de vir para a rua...
Perdição da minha vida!
Perdição da vida minha!
Tenho fases de ser tua,
tenho outras de ser sozinha.
Fases que vão e vêm,
no secreto calendário
que um astrólogo arbitrário
inventou para meu uso.
E roda a melancolia
seu interminável fuso!
Não me encontro com ninguém
(tenho fases como a lua...)
No dia de alguém ser meu
não é dia de eu ser sua...
E, quando chega esse dia,
o outro desapareceu...
Cecília das crianças.
A Língua de Nhem
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Havia
uma velhinha
que andava aborrecida pois dava a sua vida para falar com alguém.
E
estava sempre em casa
a boa velhinha resmungando sozinha: nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
O gato
que dormia
no canto da cozinha escutando a velhinha, principiou também
a miar
nessa língua
e se ela resmungava, o gatinho a acompanhava: nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
Depois
veio o cachorro
da casa da vizinha, pato, cabra e galinha de cá, de lá, de além,
e todos
aprenderam
a falar noite e dia naquela melodia nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
De modo
que a velhinha
que muito padecia por não ter companhia nem falar com ninguém,
ficou
toda contente,
pois mal a boca abria tudo lhe respondia: nhem-nhem-nhem-nhem-nhem-nhem...
Anexo
mais este poema, por recomendação dos leitores
Epigrama Nº 8
(Cecília Meireles) Encostei-me a ti, sabendo bem que eras somente onda. Sabendo bem que eras nuvem, depus a minha vida em ti. Como sabia bem tudo isso, e dei-me ao teu destino frágil, fiquei sem poder chorar, quando caí. |