sexta-feira, 24 de maio de 2013

Amplitude, Paulo Betancourt

Publicado no blog do amigo Menalton Braff, e copiado aqui, para avivar a lembrança e perenizar o belo momento.

O poema abaixo, de Paulo Bentancur, faz parte de seu livro Bodas de Osso.


AMPLITUDE
  
Ninguém ama um homem comum.
O terror da entrega é antigo.

Te quero tanto e disfarço.
Sou puro como a borra do café                        
e o pano de prato manchado.
Às vezes me gripo, me atraso.
Sei disfarçar o choro.


Ninguém ama um homem comum.
Fugiste quando eu me encolhi.
Queríamos o que o mundo podia,
e ele só podia nós dois.

(O tempo levava o amor
por sua mão já sem forças:
quatro dedos, pouco gasto.)

Um homem comum vê o tempo
arrastando-se em seu rosto.

Não quero prometer a rosa
que nem tu mesma encontraste.
Não quero salvar uma morta.
Quero que as nuvens convençam
a todos o que já sei:
sou um homem, não um rei.

Quem quiser um soberano
terá de amar um séquito.
Quem aceitar-me sozinho
encontrará este homem
que enxuga as tuas costas
e não diz uma palavra
seca e dura como o ouro
que mata os homens comuns. 


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