quinta-feira, 27 de outubro de 2011

Notícias Poéticas- outubro de 2010


Notícias Poéticas- outubro de 2011

Uma ruga marca a face como resultado da pausa para reflexão.
Junto a ela aparecem novos fios de cabelos brancos.
Tudo vejo e pouco posso nesta minha incapacidade humana.
A dor e a loucura do vizinho de cadeira, a criança maltratada, o velho abandonado, a pátria na preguiça de ser melhor, o profissional da educação e da saúde, base do ser, desvalorizado, pisado, espezinhado, questionado e desacreditado.
O homem terceirizado.
Doem-me uma a uma, creiam as sei de cor, as promessas não cumpridas feitas no mais verdadeiro desejo de realizar, e na maior ilusão de conseguir.
Por estas peço perdão.
Peço perdão pelo “não” imediato que não soube dar,  e pelo “não” dado, consciente do limite.
Purifico-me aqui, para seguir em frente mais leve.
O sol brilha, o céu é azul, o vento faz música nas ramagens, chove abençoando a terra, uma criança sorri, um velho conta uma estória, o professor ensina a lição do esquecimento das ofensas, o médico nem se lembra delas, urge aliviar a dor e a loucura do vizinho de cadeira que é qualquer um e todos ao mesmo tempo. Somos gente que vive, por vezes goza e por outras sofre e precisa da força, da mente e do amor de outra gente para seguir em frente.
O verdadeiro consolo é aconchegar-se no conforto da palma da mão de Deus, confiante na proteção.
Eu vos saúdo corpo, mente, espírito e coração.

Doação

Faço das tripas coração
para segurar a dor
que o teu sofrer
silente me dá.

Choro rios mares
no escuro
para te oferecer
um riso claro pela manhã.

Flagelo meu corpo
no anonimato das multidões
para aparecer-te inteira
na redoma do lar.

Tudo sob o tênue véu de pseudo sanidade

Na solidão rasgo vestes
ateio fogo aos pertences
arranco os cabelos
brinco de boneca
enquanto canto baixinho
e me embalo
em amoroso, doce e lento acalanto

                               Eliane Ratier, outubro de 2011 

PS: o cinza é também uma cor

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