domingo, 26 de fevereiro de 2017

Livros- No caminho eu conto- Heloísa Martins Alves



Livro de estréia da  queridíssima Heloísa.
Contos breves, a maioria deles tendo a mulher como protagonista em cenários de sonho.
A realização de desejos de maneira intensa.
Contos que são como aperitivos pedindo por mais.
Quem sabe um romance?
Destaco como favoritos "O estilista" e "A atriz"

De "A Atriz"

"Um enfermeiro, senhor do desconforto, aplica uma injeção e a deixa catatônica, fora do mundo, bicho acuado. Uma tênue linha entre a normalidade e a loucura. Essa linha é como um fio de seda pronto para arrebentar, arrebatando mais uma para o solar do esquecimento."

Onde encontrar?
Com a autora ou em feiras de livros de autores independentes.
No caminho eu conto- editora Funpec- Heloísa Martins Alves

O meu foi presente da autora por ocasião do lançamento em novembro de 2016.


quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Felicidade



Passávamos pelo centro da cidade, pelas ruas onde tive meus locais de trabalho, onde transitei diariamente indo e vindo, fazendo.
Calçadas que guardam o eco dos meus passos.
Foi quando ela me perguntou onde eu tinha sido mais feliz.
Meus olhos encheram d’agua.
A pergunta pairou no ar um instante, até evaporar-se sem resposta.
Fugi para outro assunto.
Tão ridículo descobrir assim, numa pergunta boba, algo triste sobre sua própria vida.
Eu não era feliz!!
Felicidade não existia então.
Tão pouco existia a infelicidade.
Não que a felicidade nunca tivesse existido.
Existiu certamente, mas esqueci-me de percebê-la, identificá-la, torná-la reconhecível.
Foi assim que ela passou pela minha vida e eu não a retive.
Nem lhe dei a chance de uma alô, tão ocupada que estava .
Na vida existia o fazer, o inquestionável trabalho profissional, em duas diversas casas, e o mundo pessoal, das satisfações, das obrigações.
Havia o bom trabalho realizado, o bem feito, a missão cumprida, o gosto por isso e o desgosto pelo falho, pelo erro, pelo não feito também presentes.
Gosto e desgosto , não era uma questão de felicidade, era uma questão do viver.
Vive-se, gostando ou não.
Dias bons, outros ruins, melhores e piores.
Vitórias, derrotas, desafios aceitos e vencidos . Pagos com sangue , suor e lágrimas os devidos tributos, dentro da normalidade.
Acordar, cuidar-se, cuidar dos outros, da casa, do trabalho e tratar de sobreviver até a noite. Dormir bem para acordar com energia para fazer tudo de novo, tentado melhorar em algo.
A vida sem felicidade.
Como eu sei?
Agora eu sei.
Agora eu sei como é a felicidade.
Prestei atenção e reconheci-a quando ela reapareceu.
Retive-a na palma da mão.
Enchi-a de carinho e mimos.
Não admitimos separação.
Os gostos e desgostos continuam acontecendo, mas a felicidade está aqui comigo, independente de onde estou.
Perto, segura, íntima, fácil e simples.
E mesmo sob ameaças, mergulhada até o pescoço na lama escura, eu sei da cor e do sol.
Sei da lua e da música. Sei do amor.
Sei dela, da felicidade.
Sei, para nunca mais me esquecer.

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Livros- O Relógio Avariado de Deus- Ozias Filho




Primeiro vou falar do autor.
Brasileiro do Rio de Janeiro, morando em Portugal faz tempo.
Jornalista, fotógrafo, inquieto, ativista.
Conheci-o por seu trabalho de fotografia que compôs , lindamente, com o poema de Iacyr Anderson, "Ar de Arestas",que também recebeu versão dançada.
Por artimanhas da rede de comunicação e generosidade do autor, Ozias participou como jurado em um concurso fotográfico onde eu eu fazia parte da comissão organizadora.
E assim são tecidos os fios...
Ainda não nos conhecemos pessoalmente.
Ozias não se detém nas imagens e nos traz a palavra.
Os poemas do "Relógio", agora lançado no Brasil,  mesclam o cotidiano da grande cidade, sua violência banalizada, Rio, São Paulo, e momentos íntimos que firmam a condição humana, apesar de tudo, no mundo interior, como ponto de abrigo e resistência.
Aqui, um destes momentos.

" em cada linha escrita
inscrevo-me
dissipo o calcário
das veias
:
esses pontos luminosos
que à flor da pele
vêmo-los antes de fazer a barba
no espelho da manhã"

O Relógio avariado de Deus- Ozias Filho
editora Texto Território
pedidos pela internet

Conheçam, também, a mágica fotografia de Ozias Filho.

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Livros- A coleira no pescoço- Menalton Braff




Primoroso livro de contos do mestre Menalton Braff.
O gênero é sua especialidade.
Seus contos tem a poesia na medida certa, pincelada, o suficiente para iluminar sem cegar, ou deslumbrar a ponto de mudar o foco da narrativa.
Os fechos são surpreendentes e há sempre a presença da tão humana melancolia acinzentando o enredo.
O primeiro e o último conto trazem o cão como personagem, num requinte de coerência.
Deixo aqui alguns trechos:

- do conto "O caso das digitais perdidas"
"Qualquer biografia tem necessidade de pontos cegos, porque a vida, com janelas escancaradas, é simplesmente impossível."

- do conto "O Zelador"
" O cão estava imóvel e atento.Apesar de suas orelhas caídas, ele tinha a fisionomia jovial e festiva, como de alguém que sente grande prazer no fato de estar vivo."

"São os impedimentos, pensou o zelador ao arrancar com os dentes um bocado do pão. Quase todos inexplicáveis, mas aceitos passivamente."

" A chuva tinha deixado um friozinho alegre no dorso do ar,e, na frente da caverna, abria-se uma várzea coberta de arbustos muito verdes e brilhantes."

Onde achar: A coleira no pescoço- editora Bertrand Brasil- 2006
O meu eu trouxe da Bienal de SP, mas é encontrado na internet e em livrarias.

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Livros- Espiral- Alfredo Rossetti

Ah! Alfredo!!
O mago da poesia!!


Espiral é um respiro, um suspiro, um alívio para o dia.
Traz o perfume de outras energias, a possibilidade de fuga para outro patamar.
Obrigada, Alfredo!
Quero mais!

" ajusta
o silêncio

à tua
percepção

sintoniza
teus sentidos

e morre
por um minuto

nada em vida
supera
um renascimento"

Onde achar: com o autor, ou em Feiras de livros locais e regionais.