Hoje, 30 de junho, é dia de Berê, minha sogra que já mora no céu.
Berê queria uma casa e orientou sua vida nesta direção.
Casou-se, teve 5 filhos e uma linda casa, fonte de recordações para todos, que depois virou apartamento que com ela findou-se.
Seus móveis, utensílios, roupas, estão espalhados pela família que usufrui de seu legado material.
Ficaram, também, os feitos e atos, coisas para lembrar,rir, chorar, analisar, seguir ou descartar, suas viagens, sua disposição amorosa para a ajuda a quem quer que fosse, o aprimoramento dos cuidados com a casa, sua fé inabalável , o consolo na religiosidade, a guarda do domingo, a percepção do belo, o gosto pela música, a autonomia e a persistência de alguns desejos meninos, daqueles que não se realizam, só para nos entristecer o olhar e fazer-nos continuar a desejar.
Empreendia fugas nos aniversários, inventava viagens, não atendia ao telefone, preservava sua paz.
Berê não se foi, continua conosco, nos objetos que guardamos, na recordação de sua vida como história humana, no olhar de seus filhos e netos, escondida em alguma poesia.
Para ela, há "Saudade"
Saudade
Saudade,
esta dor de não sei o quê
esta dor de fartura e falta
esta dor sem remédio.
Uma nem bem se cura
e já vem outra a nos cutucar.
Saudade que ocupa a mente.
Saudade que curva o corpo.
Saudade que encurta a vista
de tanto procurar
em velhos catálogos
um número qualquer,
perdido.
Saudade que dói doída
faz-me sentir viva
lúcida,
pois se a tenho, saudade,
é sinal que a vida é
bem vivida.
Deixa marcas de alegria
gostos de” quero mais”
sonhos de” próximos capítulos”
planos de acontecer,
para de mais saudades sofrer.