Ela costuma comemorar a data , e eu contagiada, mesmo sem ser de circo, vou no embalo.
Deixo aqui um poema encomendado e entregue no prazo, sobre o palhaço.
ilustração do livro Piolin de Jair Yanni, feita por Roberto Bérgamo
Eu, palhaço
Sou o que sou,
não tenho opção.
Se envergo o terno sisudo da obrigação
pareço grotesco,
e até o porteiro do prédio vizinho
sorri do meu ar inadequado em desalinho.
Sou o que sou,
um poeta do riso.
Mostro a graça da ocasião,
alivio com piadas
o sofrimento, o medo, a ingratidão.
Bom ator
finjo não sentir o que sinto.
Se minha roupa é colorida
seu avesso é forro desbotado,
tom de melancolia,
grudado à pele deste humano ser,
que chafurda o interno
em busca do belo.
Sou o que sou ,
aceito a condição,
essencial como o padeiro ou o padre,
eu palhaço
me declaro de grande utilidade
e dou-me um ultimato,
um último prazo,
de fazer rir a humanidade,
apesar da dor, da desilusão, da perda, da saudade.
Eliane Ratier, para Jair Yanni, novembro de 2011