quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Notícias Poéticas- julho de 2011


Notícias Poéticas- julho de 2011

O primeiro semestre se foi, mandou as contas, passei a régua, paguei as dívidas, bati a porta.
Fim.
Empurrei-o com amor, como se faz com um filho aprendendo a andar de bicicleta.
Vem aí a outra metade de um ano que não quero que passe batido.
Passará corrido como é próprio do seu tempo.
Reterei na memória da pele o que me for permitido.
Gastarei o olhar, é certo, e as costas, os pés, e as mãos, mas encherei os pulmões do ar de alegria e suspirarei o susto das emoções.
O plano é  continuar respirando e sorrindo.
Qualquer extra será lucro.
Eu lhes desejo, amigos, um julho de ar puro e renovador e um segundo semestre suficientemente bom, com espaços reservados para as maravilhas.
O rosa intenso e precisamente delimitado nos ipês contra o azul inigualável do céu de inverno é a prova divina, material e inquestionável da beleza da vida.
Hoje Deus falou comigo, acendeu no meu caminho, o primeiro ipê amarelinho.

Moto contínuo

Acerto as contas com o tempo.
A vida cobra
Pago antecipado
Fecho a conta.

Saio do bar pendurado na cintura da Esperança.

Esperança é a mulata de olhos verdes, que rebola macio incríveis coxas de chocolate e verte mel pelas curvas do seu ventre.

Me lambuzo!
Aplaudo,
sorrio e celebro
o prazer de viver
e a beleza do porvir.

Cruzo a rua,
sento-me a mesa do outro bar.
Checo os instrumentos,
olhos, ouvidos, olfato, paladar.
Empunho os talheres.
Esperança sorri.
Que venha o jantar.

                                 Eliane Ratier


terça-feira, 30 de agosto de 2011

O poder da literatura- Garotas que leem nuas


EUA: Garotas que leem nuas viram atração em Nova York

Autor: France Presse
15/08/2011
Desfrutar os textos de Shakespeare, Oscar Wilde ou Henrik Ibsen lidos por belas mulheres nuas, ouvindo tudo com um copo na mão, num ambiente descontraído: esta é a proposta de "Naked girls reading" (Garotas que leem nuas), uma experiência incomum que está sacudindo Nova York, uma vez por mês.

Trinta pessoas - a maioria jovens casais e grupos de homens - aguardam num pequeno salão, com velhas cadeiras clássicas e lâmpadas de luz vermelha no primeiro andar de um bar de Greenwich Village, no centro de Manhattan.

Logo, quatro meninas de roupão e saltos altos sobem num pequeno estrado decorado com um grande divã, ao lado de um microfone. As pessoas aplaudem, entre elas um homem de meia-idade que, até o momento, lia tranquilamente o jornal, ao lado da companheira.

"Bem-vindos! Gostaria de começar apresentando-lhes nossas meninas nuas que lerão nesta noite", anuncia Nasty Canasta, uma jovem de cabeleira loura e silhueta fina, artista do gênero neoburlesco, que lidera a trupe.

Em seguida, Gal Friday, Sapphire Jones, Tansy e ela própria tiram os roupões e, como Deus as trouxe ao mundo, começam a ler passagens selecionadas sobre autores famosos e nem tanto, neste espetáculo de "literatura completamente frontal".

"The importance of being earnest", do escritor britânico Oscar Wilde, ou "Casa de bonecas", do dramaturgo norueguês Henrik Ibsen, são alguns livros escolhidos para esta vesperal dedicada ao teatro, durante a qual as quatro moças exibem um verdadeiro talento oratório.

A plateia ri dos diálogos picantes ou muito inteligentes, mas também acompanha em silêncio atento os momentos de emoção, por exemplo, quando Sapphire Jones dedica um texto de Shakespeare à avó, falecida há duas semanas.

"Gosto de narrar histórias e esta é a minha maneira. Sinto-me confortável nua", conta à AFP Nasty Canasta ao final das leituras, que duram quase duas horas, com um intervalo.
A seu lado, Gal Friday concorda e lembra que ficou "nervosa" a primeira vez que leu nua em público, mas que agora já nem se dá conta disso.

"Quando alguém vem aqui pela primeira vez diz: 'Oh, há uma garota nua!' Mas depois, quando começamos a ler, os olhares sobem", comenta Friday com uma risada. Ela, como as outras, têm experiência em teatro.

A ideia de "Naked girls reading" nasceu em Chicago (norte dos Estados Unidos), em março de 2009, das mãos de Michelle L'Amour, uma conhecida artista americana do gênero neoburlesco.

"Meu marido me encontrou uma vez sentada na cadeira, lendo nua. Digamos que se viu inspirado pela imagem. Começamos a rir e a conversar sobre a criação do evento Naked girls reading. E compramos o site na internet", conta L'Amour à AFP.

Michelle entrou logo em contato com Nasty para produzir o espetáculo em Nova York, que teve sua primeira leitura em outubro de 2009. Prepara, agora, um grande evento para celebrar o segundo aniversário.

Mundo afora
Atualmente, o espetáculo é produzido em várias cidades americanas e em algumas europeias, como Londres e Copenhague. "As leituras estão aí para fazer com que as pessoas se excitem com a literatura. Você pode ouvir bela literatura enquanto observa mulheres formosas. É uma combinação perfeita", explica L'Amour.

A escolha das meninas leitoras exige certas características, segundo Nasty Canasta. "Em maioria, é gente que conheço e está disposta."

Para os espectadores, que se despedem das garotas com um grande aplauso, o resultado é convincente. "Foi maravilhoso. Quando começaram a ler esqueci que estavam nuas", comenta Ellen Snare, uma advogada de 32 anos que assistiu pela primeira vez ao espetáculo.

"A escolha das passagens foi perfeita", conclui, assegurando que vai recomendar os amigos.

Veja uma imagem aqui.





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domingo, 28 de agosto de 2011

Fabricio Carpinejar- Do Lar- Borralheiro


Do lar- Fabrício Carpinejar

As mulheres caíram numa cilada masculina.

É um suicídio governar o país, o estado, o município. Bronca mais peluda do que as costas de Tony Ramos.

Cansamos. Foi um erro de cálculo. A autoridade desmagnetiza o prazer. É um encalhe de problemas, sempre tem um funcionário que pretende tirar vantagem, um escândalo, uma secretária gostosa no caminho, um relatório a entregar, além do excesso de reuniões que não permitem escapadinhas. Não há como arrumar amantes na posição de chefe, logo vira assédio sexual.

Não deu certo com a gente. O Imposto de Renda nos venceu. O enfarte nos venceu. Não queremos perder cabelos e passar a aposentadoria pagando implante.

Duro demais enfrentar 12 horas no expediente, suportar a fogueira de vaidades, não sobra folga para mais nada. Se eu fosse vocês não pegava essa geringonça.

O que pretendemos é ser do lar. Não conhecemos nenhuma dona de casa que foi processada, é mais seguro. Já temos prática em lavar carro, aprontar o quarto é moleza.

O que nos atrai neste milênio é preparar o jantar consultando um livro de receitas. Testar trituradores de camelôs.

Não nos importamos em receber mesada, podem deixar em cima da mesinha antes de sair. Não esqueçam o dinheiro do gás.

Produziremos três pratos quando vocês chegarem. Prometemos um doce toda semana, um pudim ou ambrosia, como queiram. Mas, por favor, só avisem quando vierem com amigas para jantar, que tudo seja planejado, horrível dar vexame às visitas.

Controlaremos a validade dos produtos na geladeira. Necas de se afligir com o supermercado, não iremos sobrecarregá-las com frivolidades domésticas.

Nossa missão será garantir a tranquilidade de vocês, chefas de família. Vamos encher a banheira com sais e espuma. Quando voltarem do trabalho, pegaremos maleta e bolsa e perguntaremos com a voz descansada:

– Como foi o dia, meu bem?

De noite, estaremos disponíveis ao ato sexual, relaxados. Compraremos óleos e cuecas fetichistas, talvez fantasia de policial ou de torneiro mecânico. Depois de encaminhar as crianças, colocaremos velas pelo corredor, Madona no CD e mostraremos, à meia-luz, os novos passos de pole dance.

Não descuidaremos da aparência. Fugiremos para shoppings à cata de uniformes esportivos. Diariamente, faremos um desfile dos times ingleses, dos italianos, dos espanhóis, dos franceses.

O que nos interessa mesmo é assistir ao futebol na televisão. Sempre há um jogo a qualquer hora, não existia isso antes. Qualquer horário, acreditem.

Agora mesmo, por exemplo, acompanho o Campeonato Alemão, Schalke versus Bayern, enquanto organizo a coleção de sapatos de minha esposa.

Os homens não querem mais o poder. Descobriram que a submissão é a força.

                                                  

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Poema de Jair Yanni

Mulher

Pensa- pelo homem
teu amor espera
desde a alegria no rubor da face

Sonha- mulher
o amor é lindo
é recompensa de sabor e arte

Ama- mulher
o amor é vida
pulsando louco no teu coração

Espera-
o amor te aguarda
sublimando tudo que não é razão

Entrega-te -
ao amor no ato
ao fruto que possível há de gerar teu ventre

Aguarda -
o amor fecunda
essa flor tão linda que já é semente

Prova-
que tu és a imagem
da Divina Espécie que te fez Mulher

Mostra -
que és santa e pura
Deusa-Criatura
Anjo do além

Sente -
tu és ungida pelo infinito
não importa o grito
quando fores mãe

Amem

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Antonio Prata- Duelo


Duelo
GOSTO DE CAMINHAR no meio da multidão. Num cruzamento da avenida Paulista, à uma hora da tarde, sinto-me anônimo e protegido como um peixe no cardume. Nada me distingue, sou só mais um, sem nome, credo ou classe social.
Sensação completamente diferente de quando, andando por uma calçada deserta do bairro, vejo despontar na esquina oposta um outro pedestre. Se entre a turba me diluo, tranquilo, diante dessa presença que se aproxima me concentro, aflito. Agora sou apenas eu, ele é o Outro, com maiúscula, é todo mundo, é a teletela do Big Brother (de Orwell, não do Bial), espelho-janela das salas de interrogatório da polícia, em filme americano. 
Que pensarão de mim esses dois olhos inquisidores? Que juízo farão de meus passos, das minhas roupas, da expressão que levo em minha face -ainda mais agora, que tropeço nessas dúvidas? Subitamente, os braços me sobram, as mãos quase roçam o chão, como as orelhas de um basset hound. 
Questão prática: devo encarar esse ser que vem em minha direção ou ignorá-lo por completo? Não, não, ignorar seria suspeito -suspeito de que, meu Deus? Não sei, mas talvez ele saiba, ou então descubra: melhor é dar uma olhada rápida, ainda de longe, como quem não quer nada - e, por acaso, eu quero alguma coisa?! -, depois fixar as pupilas num ângulo de 45 entre o horizonte e o chão, inclinação cívica e recatada, como bem sabem os passageiros do ônibus e do metrô, os pedestres bem treinados e as ripas das persianas. 
Enquanto levanto os olhos para checar o concidadão, torço para encontrar alguém muito diferente de mim: uma platinada perua, um porteiro de uniforme cáqui, um senhor de bengala, uma estudante mascando chicletes. Afinal, para a perua eu serei apenas um homem pobre. Para o porteiro, um homem rico. Para o velho, um homem novo. Para a menina, um homem velho. Não haverá disputa nenhuma entre nós e, mesmo que nos encaremos, a distância de nossos mundos impedirá um julgamento preciso. 
Já ao passar por um semelhante, um sujeito da mesma idade e faixa socioeconômico-cultural, será impossível fugir da herança de milênios de competição por comida, mulheres, poder. Ainda que só por um segundo, nos mediremos, perguntando-nos: esse que vem aí é melhor ou pior do que eu? Se fôssemos gorilas, bateríamos no peito, mandando nossos gritos para a selva. Se fôssemos alces, chocaríamos nossos chifres, até sangrarem. Fôssemos ursos, nos estapearíamos, até que um dos dois desistisse e voltasse para o bosque, enquanto o outro buscaria, orgulhoso, o olhar de uma fêmea. 
Ainda bem que não sou gorila, nem alce, nem urso. Sou tímido e covarde e só ia levar bordoada num documentário do National Geografic Channel. Ainda bem que, ao levantar os olhos, percebo que o pedestre vindo em minha direção é o seu Wilson, dono da banca na rua de baixo. Cumprimentamo-nos com um meneio de cabeça, amistosos e desinteressados, como uma zebra e um flamingo que bebem água de um mesmo laguinho, na savana. Então ele passa por mim e eu sigo em frente, levando minhas neuroses para longe dali. 

antonioprata.folha@uol.com.br 
@antonioprata 
Blog "Crônica e Outras Milongas" 
antonioprata.folha.blog.uol.com.br
             

segunda-feira, 22 de agosto de 2011

Poema de Cecília Figueiredo


O homem que eu nunca vira antes
veio para perto e sussurrou:
"Ando milhas todo dia
e gasto um par de sapatos por mês!"
Que terrível constatação!
Não saberia o homem
que ando um metro por dia
e gasto cem vidas por vez
escrevendo daquilo que penso
e do que não penso talvez?

Cecília Figueiredo        

sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Sarau Paraler- Os homens- texto de abertura



Amigos, o sarau da Paraler, deste último dia 16, em homenagem aos homens, foi um sucesso.
 Se nos fosse possível,estenderíamos o bate papo madrugada afora.
Agradeço à Marylene pela cessão do espaço, nobilíssimo, e aos funcionários da Paraler, Luiza, Marcos, e todos que nos recebem de maneira prestativa.
Agradeço aos meus convidados, amigos para lá de especiais, Ferriani, José, Prof Osvaldo Félix, Bia e João da Colorado, que fizeram o show, aos que ficaram nos bastidores e deram o total apoio, Raquel, Gilberto, Alex, e  à todos que estiveram presentes e que com sua participação enriqueceram o evento: Regina, Inaldo, Marlene, Elisa e a família linda, Jair, Vera, Àurea, Toledo, Loureiro, Rita, Cristiane, que me deixou com um grão incomodante de saudade
Lamento e peço desculpas aos colegas que estiveram por lá, e não tiveram a oportunidade de mostrar o seu trabalho por falta de tempo.
 Acontece.
Deixo com vocês o texto de abertura e devagarzinho vou publicando os demais textos e poemas que fizeram parte do sarau.

Sarau Paraler- os homens

Confesso que fiquei confusa quando comecei a escrever este texto de abertura.
A espécie humana é biologicamente dividida em dois gêneros, que fisiologicamente tem necessidades, sentimentalmente tem sonhos e emocionalmente desejos.
Dividir a humanidade em homens e mulheres gera comparações, que deságuam nas competições inevitáveis da dualidade, e seu for por esta vertente, me perdoem.
Hoje mais do que nunca formamos a unidade “ser humano”, na diversidade dos papéis sociais , o masculino no feminino, o feminino no masculino e tudo uma coisa só em todos.
Do branco ao preto há muitas cores e infinitos tons.
No papel primordial de Homem, gerador, pai em potencial, temos cada vez menos candidatos dispostos a abraçar a causa, mas os que o fazem , o fazem com uma dedicação inigualável.
O pai moderno é Pai com P maiúsculo, cumpre o papel de provedor, do qual se orgulha, embora aceite sem problemas a ajuda da companheira nesta questão, supre as necessidades físicas da cria, brinca e educa sem pudor, tomando para si, também esta tarefa, antes exclusividade das mães.
Como irmão é  o amigo mais certo, como amigo , o mais próximo, amante , o par ideal, buscado como agulha em palheiro  pelas mulheres, cada vez mais exigentes em seus padrões de qualidade.
O homem se esforça para estar à altura, malha na academia, lê os jornais além da página esportiva e de negócios, e vez ou outra encara um cineminha  ou um livro, para manter o currículo básico, pois  quer ser alvo da escolha das fêmeas, na naturalidade da natureza, para arrulhos amorosos. As promessas, nem sempre cumpridas mas cheias de boas intenções, satisfazem o par, e eis aí uma história de amor.
Na opinião das moças, bom mesmo é ter um homem  utilitário, que bata prego, troque lâmpada e carregue coisas pesadas pela casa. Faz uma falta!!
Homem é acima de tudo gente, tem gostos e desgostos.
Futebol, cerveja e mulher, ainda são os assuntos prediletos entre os homens?
Como explicar o grande número de homens dedicados à arte em seus vários segmentos, num mundo hoje dominado pela busca desenfreada pelo poder e o dinheiro?


                                       Eliane Ratier, sarau da Paraler, os Homens, agosto de 2011